Economia

Banco Central não descarta aumentar taxa de juros e alega haver ‘incerteza’ sobre cenários

O Copom ignorou apelos pela redução na Selic e manteve o índice em 13,75% ao ano nesta quarta-feira 22

Roberto Campos Neto e Paulo Guedes, em evento no Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
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O Comitê de Política Monetária do Banco Central ignorou apelos pela redução na Selic e manteve o índice em 13,75% ao ano. Além disso, o comunicado divulgado pela instituição ao anunciar a taxa básica de juros, nesta quarta-feira 22, não sinalizou eventuais cortes em um futuro próximo.

Trata-se da quinta reunião consecutiva do Copom a se encerrar com a Selic nesse estágio, o maior desde 2016. A taxa de juros está no centro das críticas do governo Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O Copom informou ter tomado a decisão ao considerar “os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis”. Na sequência, o documento passa a adotar um tom mais duro ao projetar os próximos encontros do Comitê.

“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos”, diz o texto.

O Comitê apontou, ainda, que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência subiram para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou o comunicado emitido pelo Banco Central.

“Eu considerei o comunicado preocupante, muito preocupante”, disse Haddad. “O comunicado deixa em aberto, no momento em que a economia está se retraindo e o crédito está com problema, a possibilidade de uma subida da taxa de juros, que já é hoje a mais alta do mundo.”

Horas antes do anúncio do Comitê, o ministro da Casa Civil, Rui Costa – homem forte do governo Lula -, disse que Campos Neto presta “um desserviço ao País”.

“A economia está sendo asfixiada [pelo BC]”, resumiu o ministro durante café da manhã com jornalistas, do qual CartaCapital participou.

Na terça-feira 21, em entrevista à TV 247, Lula também havia retomado as críticas a Campos Neto, ao afirmar que o presidente do BC “não tem compromisso com a lei de autonomia do banco, que diz que é preciso cuidar da inflação, mas também do crescimento e do emprego, coisa com que ele não se importa”.

“Vou continuar batendo e vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros”, emendou o presidente.

Em entrevista a CartaCapital nesta quarta, o economista André Roncaglia, professor da Unifesp e doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP, afirmou que o comunicado divulgado pelo BC “não diz nada”.

“Diz que pode subir e pode diminuir no prazo que achar melhor. Não tem nenhuma sinalização”, critica. “E está dizendo que, se precisar, vai subir ainda mais a taxa de juros. Na minha visão, é algo impensável do ponto de vista da gestão monetária de um País – com a situação que a gente está vivendo – o BC dizer que, se necessário, vai subir ainda mais a taxa.”

Segundo o especialista, “a gente começa a beirar o ponto de decretar a morte da economia brasileira e deixar só o agro e os bancos sobrevivendo, porque o restante da economia dificilmente sobrevive a uma sustentação dessas taxas por mais tempo ou até a uma taxa mais elevada, se essa for a decisão do BC”.

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