Economia

‘Selic vai levando as empresas a uma morte lenta por asfixia’, diz economista sobre decisão do BC

André Roncaglia avalia, em entrevista a CartaCapital, que o País ‘começa a beirar o ponto de decretar a morte da economia’

O economista André Roncaglia. Foto: Divulgação
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O Comitê de Política Monetária do Banco Central tinha espaço desde o início do ano para iniciar um ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic, mas não seguiu esse caminho por um “excesso de zelo dentro de sua política”. A avaliação é do economista André Roncaglia, professor da Unifesp e doutor em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP.

Em meio à escalada das críticas do governo Lula (PT), o BC decidiu nesta quarta-feira 22 manter a taxa em 13,75% pela quinta reunião consecutiva do Copom.

Segundo Roncaglia, os relatórios trimestrais do BC já indicam claramente não haver inflação de demanda no País (muito dinheiro “correndo atrás” de poucos bens) a justificar a manutenção de juros tão elevados. Ele também avalia como naturais as cobranças públicas da gestão federal ao comando do banco, porque “nenhum governo gosta de ter o BC tirando liquidez da economia e inibindo atividade econômica”.

Em entrevista a CartaCapital no YouTube, Roncaglia listou alguns dos efeitos da manutenção de juros elevados por tanto tempo, a exemplo de uma asfixia do setor produtivo, da diminuição na atividade do comércio e da desaceleração nos serviços. Ele afirma, inclusive, que a queda no desemprego ocorre “porque as pessoas estão saindo da força de trabalho” e que “o tipo de emprego supostamente gerado é o autoemprego, uma solução desesperada do trabalhador”.

“Essas taxas de juros vão levando as empresas a uma morte lenta por asfixia. Quero usar essa imagem pelo grau de agonia que ela causa na economia.”

André Roncaglia prevê que o ciclo de corte nos juros deve começar antes de novembro, devido à deterioração do cenário externo – com uma potencial crise bancária em gestação – e à sinalização do governo quanto a um rigor fiscal a partir do novo marco a ser apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Possivelmente em agosto ou na reunião de setembro a gente possa ter uma medida nesse caminho de redução de juros”, prosseguiu. “Minha perspectiva é de que já na reunião de junho isso seja possível de acontecer.”

Ao divulgar a nota sobre a manutenção da Selic em 13,75%, o Banco Central não acenou ao governo quanto à possibilidade de cortar a taxa em uma das próximas reuniões. O texto diz que o Copom “segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”. Afirma, ainda, que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas” e que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

“É um comunicado que não diz nada. Diz que pode subir e pode diminuir no prazo que achar melhor. Não tem nenhuma sinalização”, critica Roncaglia. “E está dizendo que, se precisar, vai subir ainda mais a taxa de juros. Na minha visão, é algo impensável do ponto de vista da gestão monetária de um País – com a situação que a gente está vivendo – o BC dizer que, se necessário, vai subir ainda mais a taxa. A gente começa a beirar o ponto de decretar a morte da economia brasileira e deixar só o agro e os bancos sobrevivendo, porque o restante da economia dificilmente sobrevive a uma sustentação dessas taxas por mais tempo ou até a uma taxa mais elevada, se essa for a decisão do BC.”

Assista à íntegra da entrevista:

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