Economia
André Lara Resende endossa críticas à taxa Selic em 13,75%: ‘A mais alta do mundo’
‘Pai’ do Plano Real questiona por que ‘os analistas e a mídia redobram sua histeria em relação ao tal do risco fiscal e clamam por juros ainda mais altos’


O economista André Lara Resende, um dos “pais” do Plano Real, criticou o fato de a taxa básica de juros no País estar em 13,75% ao ano, por decisão do Banco Central. O nível da Selic está no centro de críticas do presidente Lula (PT) ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Em artigo no jornal Valor Econômico, Resende aponta que em nome do “risco fiscal” e da “ancoragem das expectativas”, essa taxa de juros “extraordinária” será mantida. Assim, prossegue o economista, “o Brasil continuará a ter a taxa real, descontada a inflação, mais alta do mundo”.
Ele sustenta que a Selic no atual estágio atenderia à necessidade de “ancorar as expectativas” do mercado financeiro, divulgadas por seus próprios analistas. “Por que estariam desancoradas? Por causa do risco fiscal que eles mesmo decretaram ser muito alto e se encarregam de propagar por toda a mídia”, avalia.
“Quero que o leitor se pergunte porque, mesmo diante de resultados muito mais favoráveis do que o esperado, os analistas e a mídia redobram sua histeria em relação ao tal do ‘risco fiscal’ e clamam por juros ainda mais altos. A razão é a PEC da Transição, o terceiro governo Lula, dirão. A PEC da Transição autorizou despesas em torno de 2% do PIB. A alta da taxa básica de juros, promovida por canetadas do BC desde o início de 2021, custou quase o dobro desses 2% do PIB, só em 2022. Faz sentido?”, questiona.
As críticas à atuação de Campos Neto têm sido a tônica dos discursos de Lula nos últimos dias. Na segunda-feira 6, o presidente afirmou não haver “justificativa nenhuma” para a Selic estar em 13,75%. “É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro e a explicação que eles deram à sociedade brasileira”, disse.
Na terça 7, reforço nas críticas. O petista declarou não ser possível que o País volte a crescer com a taxa nesse nível.
“Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho. Que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste País”, disse. “Ele tem muita responsabilidade.”
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