Economia

Entenda o que pesa contra Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central

As críticas do presidente Lula ganharam força nos últimos dias e dominaram o noticiário econômico

Roberto Campos Neto e Paulo Guedes. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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A discussão econômica dos últimos dias tem sido marcada pelas críticas do presidente Lula (PT) e de muitos de seus aliados ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Um dos motivos é a taxa básica de juros em 13,75%, o maior nível desde janeiro de 2017. Há quatro reuniões o Comitê de Política Monetária mantém o índice.

Na segunda-feira 6, Lula afirmou não haver “justificativa nenhuma” para a Selic estar em 13,75%. “É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro e a explicação que eles deram à sociedade brasileira”, avaliou o presidente.

Nesta terça, reforço nas críticas. O petista afirmou não ser possível que o País volte a crescer com a taxa nesse nível.

“Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho. Que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste País”, declarou. “Ele tem muita responsabilidade.”

Segundo Lula, “a culpa é do Banco Central” pela taxa de juros elevada e, “agora, é o Senado que pode trocar o presidente” da instituição.

O Banco Central, no entanto, sinaliza a disposição de manter os juros elevados. Na ata da mais recente reunião, em 1º de fevereiro, a instituição mencionou “a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva”. Avaliou, porém, que o pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação”.

A taxa de juros está no centro das críticas de Lula ao BC, mas há outro fator a “turbinar” essas avaliações negativas: a chamada independência da instituição, dispositivo que alterou as regras dos mandatos da presidência e da diretoria.

“Neste País, se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer, com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente é quem indicava”, disse o presidente à GloboNews em 18 de janeiro. “Eu duvido que esse presidente do Banco Central seja mais independente do que foi o Meirelles.”

A discussão sobre a independência do Banco Central divide economistas. De um lado, defende-se maior autonomia para que o BC seja distanciado de “pressões políticas” que venham do governante. Do outro, critica-se a autonomia por aproximar a instituição da influência dos empresários, independentemente da proposta de política econômica vitoriosa nas urnas.

Com uma lei sancionada em 24 de fevereiro de 2021, o presidente do Banco Central e os nove componentes da diretoria passaram a ter mandatos fixos que não coincidem com o início do mandato do presidente da República.

A demissão da diretoria não é impossível. Ela poderia ocorrer diante de um desempenho insuficiente para atingir os objetivos traçados pelo BC, por exemplo, na meta de inflação. Nos últimos dois anos, o País estourou o teto do IPCA.

A manobra teria, no entanto, um custo político altíssimo para o governo federal. O presidente da República teria de enviar sua decisão ao Senado e articular o aval da maioria da Casa, algo improvável neste momento.

A avaliação de desempenho insuficiente nasceria do Conselho Monetário Nacional, composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo próprio Campos Neto.

Aliados de Lula também vinculam Campos Neto diretamente ao bolsonarismo. As críticas ganharam força depois de a fotógrafa Gabriela Biló, da Folha de S.Paulo, captar uma imagem em 10 de janeiro mostrando que o presidente do BC ainda integrava um grupo de WhatsApp intitulado “Ministros Bolsonaro”.

Em agosto de 2021, Campos Neto participou de um churrasco com os então ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Fábio Faria (Comunicações). “Saboreando uma autêntica costela no fogo de chão”, dizia a legenda de uma foto do encontro publicada por Nogueira.

Antes de ser indicado por Bolsonaro à presidência do BC, Campos Neto era responsável pela tesouraria para as Américas no banco Santander. Entre 2010 e 2018, foi membro do Conselho Executivo do Santander Investment. A atuação no mercado financeiro também gera críticas de aliados de Lula, a exemplo do deputado federal Guilherme Boulos (SP), líder do PSOL na Câmara.

“BC mantém Selic a 13,75%. O Brasil paga 36 bilhões de reais em juros da dívida pública a cada ponto da Selic. Juros da dívida são pagos em sua maioria para bancos e instituições financeiras. Presidente do BC trabalhou 17 anos no Santander. Precisa desenhar”, escreveu Boulos nesta terça nas redes sociais.

Em meio às críticas, Campos Neto dobra a aposta na defesa da autonomia do Banco Central. “[A independência] é muito importante por muitas diferentes razões. A principal razão, no caso da autonomia do Banco Central, é desconectar o ciclo de política monetária do ciclo político porque eles têm diferentes lentes e diferentes interesses”, afirmou em um evento em Miami, nos Estados Unidos, nesta manhã.

“Quanto mais independente você é, mais efetivo você é e menos o País vai pagar em termos de custo-benefício da política monetária”, alegou.

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