Economia
A Semana do Mercado: ‘Superquarta’ de Copom e Fed dominam
Tanto o banco central norte-americano quanto o comitê brasileiro apontam para subidas de juros
Esta é a semana da chamada “superquarta”, quando coincidem as reuniões do Federal Open Market Committee do Federal Reserve, o banco central-americano, e do nosso Comitê de Política Monetária, o Copom. Na quinta-feira, é a vez do Banco Central Europeu decidir o que fazer com o custo do dinheiro. Noruega, Reino Unido e Austrália também têm reuniões de política monetária agendadas, e todos apontam para uma mensagem em comum: subidas de juros para combater a inflação.
Dificilmente haverá surpresas, dado que a maioria dos dirigentes monetários do mundo vêm reiterando sua disposição de conter as respectivas acelerações de preços. O presidente do Fed, Jerome Powell, antecipou que uma alta de meio ponto percentual, ou 50 pontos base, “estará sobre a mesa para a reunião de maio”, em entrevista à CNBC TV, em 22 de abril, enquanto o comunicado do Copom da reunião passada indicou claramente que haveria novo aumento de 1 ponto percentual da Selic (a taxa básica de juros) para 12,75%.
Já correm pelo mercado apostas de que a Selic poderá passar até dos 14%, visto os últimos dados de inflação
Mas os mercados têm dúvidas quanto ao calibre dos juros e a duração do arrocho monetário, para aquilatar o impacto na atividade econômica e as probabilidades de recessão. Pesquisa da agência Bloomberg dá como certo um aumento total, até setembro, de 2 pontos percentuais, até setembro, levando a Fed Funds rate para 2,5% – nível considerado “neutro”, isto é, capaz de controlar a inflação sem provocar recessão.
Mas, além da alta de juros, os mercados esperam definições de como se dará o processo de redução do balanço do Fed, dos atuais 9 trilhões de dólares para algo ao redor de 5 trilhões. “Um enxugamento monetário de 4 trilhões de dólares é algo pesado até para uma economia do tamanho da americana, e deverá ter um impacto forte nos juros e nos preços de mercado”, assinalam analistas da casa de análise Levante.
Por isso, além da reunião do FOMC, investidores e analistas escrutinarão o relatório sobre emprego que será divulgado na sexta-feira, com a expectativa de um recuo da taxa de desemprego para 3,5% – o que reforçaria as análises que a inesperada queda do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre (divulgada quinta passada) deveu-se sobretudo a um aumento das importações, pois a demanda interna continuou robusta, logo sem indícios de recessão – ainda.
Aqui, no relatório Focus divulgado pelo BC nesta manhã, as expectativas dos cerca de 100 economistas consultados semanalmente era de que a Selic vai a 13,25%, ante 13% na edição de um mês atrás, a última antes da interrupção nas publicações decorrente da greve dos funcionários do BC. As projeções de inflação para 2022 subiram de 7,65%, na semana passada, para 7,89%. Também subiram as expectativas para a inflação de 2023, de 4% para 4,10%. Daí a expectativa de que o chamado “ciclo monetário” – as altas da Selic – não seja encerrada na reunião desta semana, como o Copom havia dado a entender na reunião passada.
No último dia 27 de abril, a primeira prévia da inflação de abril (IPCA-15) veio com alta de 1,73% contra 0,95% em março, e uma taxa anualizada de 12,03%. Para os economistas do Banco Itaú “o comunicado (pós reunião) deverá indicar um ajuste adicional moderado em sua próxima reunião (em junho), mantendo a flexibilidade, reafirmando que o balanço de riscos para a inflação é assimétrico e que suas próximas decisões estarão condicionadas à evolução da atividade econômica, ao balanço de riscos e às projeções de inflação e expectativas para o horizonte de política monetária relevante”. Para os economistas do Bradesco,o Banco Central deixará suas decisões futuras condicionadas à evolução do cenário, sem se comprometer, por enquanto, com o encerramento desse ciclo de alta”.
Contra esse pano de fundo, já correm pelo mercado apostas de que a Selic poderá passar até dos 14%, visto os últimos dados de inflação, enquanto o dólar sobe aqui, como ao redor do mundo na expectativa do aperto mais firme do Fed. Para a diretora da corretora de Câmbio Get Money, Vanessa Blum Colloca, o cenário do câmbio é “desafiador”: do lado baixista (ou altista para o real) a taxa real de juros brasileira “gorda” e o diferencial entre juros internos e externos elevados, mesmo com a possibilidade de postura mais dura do Fed e fim do ciclo de aperto doméstico, dão certa sustentação ao real ao tornar caras posições compradas em dólar; do lado altista para o dólar/baixista para o real, a saída de investidores estrangeiros da bolsa e o fluxo cambial de março, que apresentou um saldo negativo de 4 bilhões de dólares pelo canal financeiro. “Um atestado da diminuição do apetite externo por ativos locais”, frisa a especialista.
Por volta das 11 horas, o dólar era negociado a 5,03 reais, alta de 1,72% sobre o fechamento da sexta (4,94), enquanto que a bolsa caia 1,04%, com o Ibovespa em 106.775 pontos, puxada por Petrobras ( queda de 1,45%, a 29,84 reais) e Vale (baixa de 1,12%%, a 82,36 reais).
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