Economia

A Semana do Mercado: operadores em uma nota só – inflação

Além da perspectiva de inflação alta, contribui para as expectativas mais cautelosas o risco de desequilíbrio fiscal, que voltou ao radar com os rumores de que o governo de decretar estado de calamidade

Foto: iStock
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Depois de abrir junho com o crescimento decepcionante do PIB, os mercados financeiros voltam as atenções, mais uma vez, para a inflação — cujo principal indicador, o IPCA do mês de maio, é o dado econômico do País da semana. Na arena internacional, a reunião de política monetária do Banco Central Europeu e a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor norte-americano, são os eventos mais relevantes.

O IPCA, que o IBGE publica na quinta-feira, será o último indicador oficial de inflação antes da reunião do Copom, na quarta-feira, 15 de junho. Estimativas de bancos apontam para uma desaceleração expressiva de 1,06% em abril para 0,6% em maio, com a taxa acumulada dos últimos 12 meses diminuindo de 12,13% para 11,8%. Para os economistas do Bradesco, o IPCA de maio tende a apresentar alta de 0,58% frente a abril, enquanto os do Itaú projetam alta mensal de 0,60%, levando a taxa anualizada para 11,88%, abaixo do pico de 12,13% de abril. 

A razão maior para essa esperada desaceleração é a energia elétrica, cujas tarifas tendem a baixar com a mudança da bandeira de amarela para verde. Os economistas do mercado financeiro, contudo, apontam que outros preços regulados, como medicamentos e gasolina, devem voltar a pressionar a variação mensal do indicador. Os itens do núcleo da inflação (em bens, higiene pessoal, serviços, aluguel e condomínio) devem continuar subindo em ritmo acentuado, sem qualquer sinal de desaceleração.

Outro indicador da inflação, o IGP-DI de maio, será divulgado na quarta-feira. A expectativa é oposta à de redução comparativa do IPCA. “Esperamos alta mensal de 0,70%, levando a taxa anual para 10,6%, ante 13,5% em abril. A leitura será pressionada pelo atacado agrícola, enquanto os preços dos combustíveis podem desacelerar”, projeta o Itaú.

No prato positivo da balança, a normalização das atividades na China poderá ser determinante para a normalização dos índices de inflação

Entretanto, ninguém descarta que possa haver surpresas no próprio IPCA, como aconteceu com a variação de 1% do PIB, quando a expectativa era de uma taxa de 1,3% a 1,5%. Sinal disso é que os juros expressos nos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (o dinheiro que bancos emprestam a bancos) continuaram a subir ao longo dos vários vencimentos desses contratos — a chamada “curva de juros” — ao longo da semana passada. A XP Investimentos extraiu dos preços de mercado uma expectativa de taxa Selic de 13,68% ao final deste ano; de 11,93% para o ano que vem; de 11,68% para 2024, e de 11,97% em 2025. Para inflação, o mercado aponta estimativa de cerca de 8,79% em 2022, e 6,65% em 2023. Para 2024 e 2025, o mercado espera 6,32% e 6,62%.

Já na atualização parcial do Boletim Focus (suspenso há semanas pela greve dos funcionários da instituição), divulgado nesta manhã, a Selic projetada é 13,25% para o fim do ano de 2022, mesma mediana de um mês atrás, e 9,75% para o de 2023, vindo de 9,25%. O ponto-médio das projeções para a inflação oficial brasileira coletadas até a última sexta-feira, 3 de junho, ficou em 8,89% para o fim de 2022 (de 7,89% em 29 de abril) e 4,39% no de 2023 (de 4,10%). A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3,50% em 2022, 3,25% em 2023 e 3,00% em 2024, sempre com margem de 1,5 p.p. para cima ou para baixo. A atualização do Focus aponta um crescimento da economia de 1,20% em 2022 (de 0,70%) e 0,76% em 2023 (de 1,00%). Para o dólar, as expectativas são de 5,05 reais no fim de 2022 e 2023, ante 5,00 reais 5,04, respectivamente.

Além da perspectiva de inflação alta, contribui para a expectativa de condições financeiras mais apertadas o risco de desequilíbrio fiscal, que voltou ao radar  com a especulação de decretação de estado de calamidade pública pelo governo para conter a crescente inflação no país, conforme a análise da XP.

Também está no radar o projeto de lei que fixa um teto ao ICMS. Segundo o relator, Fernando Bezerra, o projeto pode ser votado no Senado na terça ou quarta-feira. Ainda com vários pontos pendentes, que devem ser negociados com o governo, os secretários estaduais buscam alternativas para conter as perdas de arrecadação dos Estados.

Outra razão para as taxas de juros dos contratos futuros permanecerem altas é a onda de alta dos juros que cruza o mundo – e à qual  o BC Europeu deve se juntar na quinta-feira. Há dúvidas se o BCE subirá, agora, ou deixará para julho a mexida na sua taxa básica, que está negativa, isto é, pagando menos do que a inflação. Além disso, o BCE irá iniciar a reversão de sua política de compras de títulos privados, como já fez o Federal Reserve, o Fed, o BC dos Estados Unidos. Neste sentido, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, buscou direcionar o mercado ao afirmar que enxerga como natural uma redução de estímulos mais gradual e que elevações de 0,25 ponto percentual nas reuniões são vistas como “ritmo de referência”, se opondo àqueles que esperam uma postura mais agressiva do BCE, de 0,50 em cada encontro.

No prato positivo da balança, a normalização das atividades na China poderá ser determinante para a normalização dos índices de inflação e das relações econômicas como um todo. Um dos principais efeitos colaterais da pandemia sobre a economia global, recordam os especialistas da casa de análise Levante, foi a alta da inflação devido a choques de oferta, como a falta de insumos preponderantemente fabricados na China, como semicondutores. Com a reabertura  de quase todas as atividades em Pequim e em outros centros importantes chineses, devido à baixa nos novos casos de infecção pelo coronavírus, os mercados antecipam uma futura desaceleração da inflação mundial, donde o índice SSE da Bolsa de Xangai, o mais importante da China, fechou em alta de 1,44% por cento nesta segunda-feira, influindo no avanço dos  pregões mais importantes da Europa – Frankfurt, Londres e Paris e também dos contratos futuros do índice americano S&P 500 na abertura nos EUA, assim como o Ibovespa da Bolsa brasileira.

  

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