Economia

A Semana do Mercado: Copom no centro do radar

O Focus divulgado nesta segunda mostrou nova alta das expectativas do mercado para a inflação de 2023, pela 17ª semana seguida

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

A reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central que, na quarta-feira 3, define a taxa básica de juros para o próximo mês e meio é o evento que domina a semana dos mercados financeiros. No geral, espera-se uma alta de 0,5 ponto percentual, elevando o piso do custo do dinheiro para 13,75% ao ano, em vista dos sinais de que a inflação pode estar começando ou até já ter começado a ceder. No entanto, parte ponderável do mercado aposta numa elevação de 0,75 pp, para 14% aa, em resposta às projeções ascendentes para a inflação em 2023 e 2024, que vêm sendo apontadas sistematicamente pelo Relatório Focus publicado semanalmente pelo BC.

As equipes de pesquisas econômicas dos dois maiores bancos privados brasileiros, Itaú e Bradesco, projetam alta de 0,5 ponto, como, aliás, foi indicado pelo próprio Copom na Ata da reunião de junho – e, com isso, o fim do ciclo de aperto monetário. No entanto, ambos destacam as incertezas com o curso futuro da inflação e a escalada das projeções do relatório Focus. Nesse sentido, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, considera a edição desta semana do Focus “particularmente relevante” para se aferir se as perspectivas do mercado sobre a inflação continuam a se deteriorar, o que ensejaria um novo ajuste da Selic em setembro.

E foi o que aconteceu: o Focus divulgado nesta segunda mostrou nova alta das expectativas do mercado para a inflação de 2023, pela 17ª semana seguida. A expectativa dos bancos e corretoras subiu de 5,30% para 5,33%, bem acima da meta de inflação perseguida pelo BC, que é 3,25%, com piso de 1,75% e teto de 4,75%. Para este ano, a projeção foi novamente rebaixada de 7,30% para 7,15%, refletindo os cortes de impostos e o teto para ICMS cobrado sobre combustíveis. Mesmo assim, a expectativa para a taxa básica de juros, a Selic, permaneceu a mesma para 2022, em 13,75%. Já para o ano que vem, a projeção da Selic aumentou de 10,75% para 11%, sinalizando que o mercado espera juros mais altos por mais tempo.

Na semana passada, dois índices de inflação relevantes vieram abaixo das expectativas do mercado e embasaram a perspectiva de inflexão na taxa de alta dos preços. A prévia da inflação, o IPCA-15, subiu 0,13% em julho, ante apostas de 0,15%, arrefecendo com relação à taxa de 0,69% de junho. No acumulado em 12 meses, o índice apurado pelo IBGE desacelerou de 12,04% para 11,39%. O segundo indicador, o IGP-M de julho, apurado pela Fundação Getúlio Vargas, subiu 0,21% no mês, abaixo do esperado 0,28% e do 0,59% registrado no mês anterior.

O entendimento generalizado do mercado é de que a moderação da alta de preços reflete os primeiros impactos da redução da alíquota do ICMS (já regulamentado em alguns estados), com efeito baixista especialmente sobre combustíveis e energia, além das desonerações dos impostos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre a gasolina e o etanol, que baixaram, respectivamente, 5,01% e 8,16%, enquanto o preço da energia elétrica caiu 4,61%.

Em contrapartida, persistiu o aumento dos preços dos alimentos: a alta dos itens consumidos no domicílio acelerou de +0,08% para +1,12%, sob forte influência do leite (+22,27%) e derivados, enquanto os itens consumidos fora do domicílio subiram 1,27% (ante 0,74%). Mesmo sob impacto da redução de impostos, o IPCA-15 apresentou indícios de alívio. Os preços dos bens industriais desaceleraram, possivelmente em função da descompressão das commodities (sobretudo metálicas) e alguma melhora nos gargalos logísticos, enquanto o coeficiente de difusão (% de itens em alta) mostrou uma inflação um pouco menos disseminada, como salienta o boletim semanal da Federação Brasileira de Bancos. A moderação das commodities também impactou no IGP-M, em particular no subitem do atacado (IPA), cuja alta ficou em 0,21% (ante 0,30%), refletindo a preocupação com uma recessão global, movimento que deve contribuir para uma desinflação mundial.

Aliás, a semana passada se caracterizou por claros sinais de desaceleração da economia americana e forte aceleração da taxa de inflação, como anotou a Genial Investimentos no boletim de hoje: “Queda da confiança dos consumidores, das vendas de novas moradias, do índice de atividade econômica do Federal Reserve de Chicago, dos indicadores antecedentes de atividade, os PMIs (Índices de Diretores de Compras, que agregam as perspectivas de novos negócios e encomendas da indústria e serviços) e do PIB (dos EUA) no segundo trimestre de 2022 de – 0,9% anualizado. É a segunda queda consecutiva do PIB dos Estados Unidos, o que, para muitos economistas, caracterizaria uma recessão”.

Ao mesmo tempo, observa a corretora carioca, a taxa de inflação continuou em trajetória de aceleração e as pressões inflacionárias são persistentes. O índice de preços dos gastos com consumo (PCE) atingiu 1,0% em junho em relação a maio e 7,1% em relação a junho de 2021; o núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, atingiu 0,6% e 4,4%, respectivamente; os gastos com consumo aumentaram 1,1% no mês; o mercado de trabalho continuou dando sinais de superaquecimento, com os custos do emprego aumentando 1,3% no segundo em relação ao primeiro trimestre de 2022 e 5,1% em relação ao segundo trimestre de 2021.

Sobre esse pano de fundo, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve – o Fed, banco central dos EUA – aumentou a taxa básica de juros em 0,75 ponto de porcentagem pela segunda vez consecutiva e indicou que deverá fazer novos aumentos nos próximos meses.

Ao anunciar a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu a entender que a autoridade monetária poderia ter alcançado o nível da taxa de juros (entre 2,25% e 2,50% ao ano) considerado “neutro”, isto é, nem expansionista nem contracionista da atividade econômica. Entretanto, o presidente do Federal Reserve Bank de Minneapolis, Neel Kashkari declarou na sexta-feira que o Fomc “está unido na determinação de reduzir a inflação para 2%, e acho que continuaremos a fazer o que precisamos fazer até estarmos convencidos de que a inflação está voltando para 2% – e ainda estamos muito longe disso”. E foi além: “Uma estratégia prudente pode ser, após a reunião de julho, simplesmente continuar com aumentos de 50 pontos-base até que a inflação esteja bem no caminho de cair para 2%”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo