Diversidade

Catedral americana abre portas para a última homenagem a uma ativista trans

O funeral, considerado histórico, contou com a presença de drag queens, pessoas trans e membros da comunidade LGBT+; grupos conservadores criticaram

Cecília Gentili atende ao NYC PRIDE 2023. Foto: Divulgação
Apoie Siga-nos no

A catedral de St. Patricks foi destaque nos noticiários norte-americanos ao realizar, em 15 de fevereiro, o funeral da ativista e atriz trans Cecilia Gentili, que faleceu aos 52 anos no dia 6. O funeral contou com a participação de mais 1000 ativistas, amigos e parentes.

Nascida numa província de Santa Fé, no interior da Argentina, Cecilia se mudou para Nova Iorque aos 26 anos, onde fundou a ONG Decrim NY, que conquistou a descriminalização do trabalho sexual no estado. Conhecida mundialmente pela participação na série POSE, produzida pela FX em 2018, Gentili também era destaque na comunidade LGBT+ por encabeçar a luta pelos direitos das pessoas trans, trabalhadoras dependentes da prostituição e pessoas viventes com HIV.

Cecilia é considerada a primeira pessoa trans a ser velada em uma catedral tendo sua identidade de gênero respeitada pela instituição. O funeral, considerado histórico, contou com a presença de drag queens, pessoas trans e membros da comunidade LGBT+ vestindo roupas de gala, com direito a plumas e cores fortes, vestes chamativas e elaboradas típicas dos ‘ball rooms’’ – celebrações produzidas por comunidades LGBTs nos EUA, compostas principalmente por pessoas pretas, latinas e trans, para celebrar a diversidade e permitir que todos os presentes expressem livremente suas identidades de gênero e sexualidade.

Novidades na liturgia durante o funeral, no entanto, chamaram a atenção da comunidade conservadora, que denuncia a cerimônia como ação de um ‘grupo de ativistas trans anticatólicos’. Um dos pontos mais criticados pelos opositores à realização do evento foi que, após a canção ‘Ave Maria’, a celebrante teria introduzido Cecilia como “Santa Cecilia, a mãe de todas as vadias’, em referência ao trabalho de apoio e defesa prestado às trabalhadoras na prostituição.

A doutrina católica não proíbe especificamente a realização de funeral e velórios para pessoas trans, mas descreve que pessoas notoriamente opositoras a doutrina podem ser vetadas.

Nesta semana, a arquidiocese Católica Romana em Nova Iorque condenou publicamente a cerimônia realizada no dia 15. Em defesa, a catedral de St. Patricks afirma que teria sido informada apenas da participação de ‘’familiares e amigos que solicitaram o funeral para uma pessoa católica, e não tinha ideia ou permitido que os sacramentos fossem degradados com tanto sacrilégios’’.

“O fato de tal escândalo ter ocorrido na Igreja torna tudo isso pior, o fato de ter ocorrido no início da Quaresma, a luta anual de quarenta dias contra as forças do pecado e das trevas, é um poderoso lembrete de quanto precisamos da oração, da reparação, do arrependimento, da graça e da misericórdia para os quais este período sagrado nos convida”, destaca o comunicado.

Após o comunicado, entidades LGBTs dos Estados Unidos, incluindo advogados dos projetos encabeçados por Cecilia, demandam um pedido público de desculpas pela associação de pessoas trans a ideia de ‘forças do pecado e das trevas’.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo