Cultura
Ricardo Herz executa obras para cordas com orquestra feminina de Cuba
Violinista gravou suas composições com a Camerata Romeu, integrada só por mulheres
Músico formado em música erudita pela USP, Berkelee College de Boston e Centre des Musiques Didier Lockwood na Grande Paris, Ricardo Herz se impressionou com a Camerata Romeu em um concerto com Egberto Gismonti, em São Paulo, há três anos.
Dali em diante, o violinista trabalhou para que a orquestra cubana de cordas formada somente por mulheres gravasse com ele. Em abril do ano passado, o grupo voltou ao Brasil e o instrumentista foi apresentado para a maestrina Zenaida Romeu, a quem ele deu duas músicas suas com arranjos para orquestra de cordas.
A mulher que rege a camerata gostou do que ouviu e em três meses Ricardo Herz estava na sede da orquestra, na Basílica Menor de São Francisco de Assis, em Havana, Cuba, para gravar ao vivo o álbum Nova Música Brasileira para Cordas, que acabou sendo lançado esse ano.
Assim, foram gravadas dez peças de Herz: Upa, Gil e Hamilton, Elegia, Inocente, De Ontem pra Amanhã, Minhoca, Chamaoque?, Saci, Quase Caindo e Mourinho. Todos os arranjos foram do próprio, com exceção de Quase Caindo, de Tiago Costa. A gravação resultou em um trabalho instrumental excepcional.
“Nos arranjos eu pensei em atender mais as demandas musicais de cada peça. O fato de ser um grupo cubano e experiente em tocar peças muito rítmicas, me deu liberdade para escrever ritmos bem brasileiros sem depender de instrumentos de percussão”, conta Ricardo Herz.
União do erudito com o popular
“Minha maneira de tocar o violino utiliza muitas vezes este lado rítmico e suingado do violino, que não é tão comum na música erudita. Neste álbum explorei bastante este lado”.
O violinista, apesar da formação erudita, combina muito bem o seu conhecimento técnico apurado com o popular, tradicional e regional desde a época em que morava na França.
Quando voltou ao Brasil em 2010, se aprofundou na sonoridade brasileira, tocando e gravando com conhecidos solistas, como Yamandu Costa, Dominguinhos e Nelson Ayres, e também com orquestras regionais. Mas a descoberta da Camerata Romeu foi especial para o músico no seu 10º disco de carreira.
“Elas (da Camerata) criaram uma sonoridade única tocando a música latino-americana. Em Cuba, as músicas erudita e popular conversam muito. Todas as meninas dançam e se relacionam com a música cubana e latina, além da música erudita em geral.”
Outro aspecto que o deixou admirado com as cubanas foi o fato de tocarem de memória. “Eu nunca tinha visto isso em uma orquestra. Elas tocaram o repertório inteiro sem ler e isto faz a orquestra tocar realmente entendendo tudo o que está passando. Uma orquestra incrível, com sonoridade, muito suingue, latino-americana e feminina”.
Grupo criado há 26 anos
Fundada em Havana em 1993 por Zenaida Romeu, com o apoio da Fundación Pablo Milanés, a Camerata Romeu é a primeira orquestra feminina de cordas da América Latina.
A Camerata tornou-se importante escola cubana de formação de instrumentistas e são frequentes suas turnês pelo mundo. A maestrina Zenaida Romeu tem sólida formação de música e regência e já acompanhou diversos solistas internacionais.
Ricardo Herz tenta agora viabilizar turnê de lançamento do álbum gravado com a Camerata Romeu Nova Música Brasileira para Cordas. Com a presença da orquestra feminina, o projeto de shows de lançamento está aprovado na Lei Rouanet e no caso de empresas paulistas, também é possível apoiar através do PROAC ICMS.
No entanto, o músico ainda tenta captar recursos por meio de empresas interessadas em apoiar projeto. “É um grande desafio meu (trazer a Camerata ao Brasil). Nele eu resumo tudo o que eu aprendi desde o começo dos meus estudos como violinista erudito até agora, como improvisador, compositor e arranjador”, ressalta. Mais informações nas redes sociais de Ricardo Herz.
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