Cultura

Rap Plus Size: “Nove jovens mortos não é fatalidade. É genocídio”

Dupla apresenta novo trabalho com forte alinhamento contra a opressão

Rap Plus Size é formado por Jupi77er, à esquerda, e Sara Donato, à direita (Foto: Georgia Nyara/Divulgação)
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“E o braço armado do Estado tem sangue nas mãos / Seu distintivo nunca trouxe proteção / É só abuso de poder, pra vender sensacionalismo / Por que a bala perdida só encontra corpo negro vivo”.

Esse é um trecho da música Pipeline, de autoria de Jupi77er, 27 anos, e Sara Donato, 29, dupla que forma o Rap Plus Size. A composição está no segundo álbum do duo, recém-lançado.

“Pipeline é a onda mais mortal do mundo. Rap Plus Size faz uma analogia a essa onda, como sendo o papel da militância dos movimentos sociais que denunciam as injustiças do sistema, simbolizando a revolta, de forma a ser perigoso e mortal por se opor à estrutura do Estado. Para denunciar as estratégias de genocídio que são planejadas dentro do sistema”, definem essa que é a segunda faixa do novo trabalho entre as 11 existentes.

Cada música de A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo conta uma história, com analogias à água e ao oceano, respeitando uma sequência, até as últimas músicas Nascente, uma exaltação ao movimento musical do qual participam, e a instrumental Novo Mundo, expressando o desejo de futuro melhor.

O álbum abre com Aquário: “Quebrem a parede desse sistema de vidro”. Outras faixas ressoam à realidade e se alinham contra a opressão.

“É lógico que ao abordar algo tão intenso, a gente precisaria passar pela realidade que vivemos. Esse álbum é como um manual de instruções, para que a gente possa realizar transformações dentro de nós para modificar do lado de fora os espaços que vivemos.”

Dupla formada em 2016

Sara Donato e Issa Paz (hoje Jupi77er) já tinham lançado trabalhos individuais quando se juntaram em 2016 para formar o Rap Plus Size. O primeiro álbum do duo foi um grito contra a gordofobia, o machismo, o racismo, a LGBTfobia e tudo mais que atormenta as minorias e os oprimidos.

“O primeiro álbum tratava de assuntos importantes, mas de maneira não tão profunda quanto este último. Ele apresentou as pautas que queríamos debater. O segundo tem um conceito definido, uma musicalidade extremamente bem construída. Cada tempo, melodia, timbre de cada beat foi pensado. Nunca antes havíamos nos exposto tanto nas nossas letras.”

Grito da quebrada

O rap tem sido a principal forma de expressão para contestar o que está aí, principalmente do que ocorre nas periferias e se transforma em manchete de jornal.

“Nove jovens mortos (na tragédia de Paraisópolis) não é fatalidade ou despreparo da polícia, é genocídio. A polícia está bem preparada para fazer o que fez e o que vem fazendo em várias quebradas de São Paulo. Seja invadindo batalha de rap ou bombardeando vielas durante baile funk. Essa suposta guerra às drogas é só uma cortina de fumaça para matar preto e pobre”, afirma Sara Donato.

“Ou vocês já viram notícia de polícia invadindo festa “rave” ou universitária com tanta truculência? A favela pede paz”, continua.

O duo ressalta o papel transformador do hip hop, as suas letras e exalta as vivências que as músicas expressam. “Vivemos na mesma sociedade que nos coloca em grupos de minorias que atendem a padrões de comportamento, de opressões. Quando rompemos com esse ciclo, abalamos uma estrutura inteira. Isso não é revolução?”

A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo conta com as participações dos rappers Djonga, Monna Brutal, Kamau e Cris SNJ, da banda Mulamba, da cantora Danna Lisboa e das slammers (que fazem batalha de poesia) Ingrid Martins e Luz Ribeiro. A Vibox (Victor Machado) fez a produção fonográfica do álbum e a masterização é da Malka, diretora da Trava Bizness.

Sara Donato, nascida em São Carlos (SP), canta rap desde os 14 anos. Jupi77er começou aos 12 anos, com vários projetos no extremo da zona norte da capital paulista, e se assume trans não binário.

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