Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Na dúvida se cantaria aos 80 anos, Ney Matogrosso lança disco impecável

Artista apresenta novo álbum nesta quinta 28 e revela que antes de gravar ‘ficou assustado não sabendo se conseguiria cantar’

Foto: Marcos Hermes/Divulgação
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Ney Matogrosso completou 80 anos em agosto. Na época, foi lançada uma extensa biografia do cantor sobre sua vida tanto no palco como fora dele. Nesta quinta 28, um dos maiores intérpretes da MPB lança novo álbum, com a voz impecável.

Com o nome de Nu com a Minha Música, o cantor diz que o critério de escolha do repertório do novo trabalho partiu de uma das várias listas que guarda com canções esperando um dia para gravá-las.

“Recorri a uma delas. Poucas músicas apareceram recentemente”, afirma. Com 12 faixas, quatro já haviam sido apresentadas por meio de um EP no mês de aniversário do músico.

Duas canções que surgiram recentemente foram apresentadas a ele por Zé Maurício Machline, um apaixonado ouvinte da música brasileira e conhecido por fazer conexões desse tipo com artistas. Uma é Estranha Toada (PC Silva e Martins) e a outra, Se Não For Amor Eu Cegue (Lula Queiroga e Lenine).

O repertório do disco conta ainda com Quase um Segundo (Herbert Vianna), Espumas ao Vento (Accioly Neto), Noturno (Vitor Ramil), Faz um Carnaval Comigo (Jade Baraldo e Pedro Luís), Sei dos Caminhos (Alice Ruiz e Itamar Assumpção) e Boca (Rafael Rocha – o cantor já havia participado da gravação original dessa música com Rafael).

Sua Estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), também gravada no disco, Ney Matogrosso conta que quando Gal Costa lançou a canção, em 1993, ele disse que um dia daria sua versão sobre a música.

Já Mi Unicornio Azul, de Silvio Rodriguez, mais uma faixa do trabalho, Ney lembra que a ouviu na década de 1980 em um show do próprio Rodriguez no Canecão, casa noturna já extinta no Rio de Janeiro.

Nu Com a Minha Música (Caetano Veloso), que abre o álbum, foi escolhida para dar nome ao disco por ela indicar “isolamento”, como está sendo hoje necessário, segundo Ney. A canção de Caetano fala da vida de músico e certa solitude na estrada com shows: “às vezes é solitário viver”, diz trecho da composição.

O disco encerra com Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho). A inesquecível canção foi lançada por Raul quando Ney Matogrosso estava no início de carreira, no grupo Secos & Molhados.

“Acho ela emblemática. Fiz questão de fazer o prólogo”, diz. Na versão original, Raul abre a música proferindo a frase “eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando/ Foi justamente num sonho que Ele me falou”.

De acordo com Ney, a abertura explica a canção: “Porque aquilo ali, no meu entender, esclarece o assunto da música. Quando ela fala ‘num sonho Ele me falou’, é saber todo o universo que a música aborda”.

Pandemia

Foi o momento difícil vivido na pandemia que fez Ney Matogrosso decidiu fazer o novo disco. Na sua biografia (já resenhada pela CartaCapital aqui), ele relata que no começo da segunda onda decidiu não ver mais o noticiário por tristeza pelas mortes e “o descaso e o escárnio” do governo com a situação crítica sanitária.

“Estava muito difícil para mim. Chegou um momento que parecia que a prisão era no corpo. Foi um momento muito ruim de viver. A música felizmente me ajudou, mais uma vez. A música sempre me ajuda”, diz.

Mas havia um desafio. O cantor, avesso às lives, não cantava há um ano e não tinha certeza de como reagiriam as cordas vocais, aos 80 anos. “Eu te confesso que cheguei a ficar assustado, não sabendo se conseguiria cantar”.

Mas a voz se manteve firme. O novo álbum é a prova. “Vou te dizer que nunca mudou nada. Nem dentro de mim nem na cabeça. Por que não é da noite para o dia que se faz 80 anos. Tá tudo igual. Eu tenho saúde. Acho que é por isso que eu não sinto esse peso”, afirma.

Ney já tem show agendado até o meio do ano, parte era o que tinha sido acordado antes da pandemia.

No álbum Nu com a Minha Música (Sony Music), o cantor trabalhou com várias bandas, ao contrário de seus projetos, sempre com um grupo fechado de músicos. “Gostei muito do resultado e de ter misturado quatro bandas”, conta.

As bandas tiveram direção musical de Marcello Gonçalves, Sacha Amback, Leandro Braga e Ricardo Silveira.

No dia 29 de outubro, será lançado um minidoc em quatro episódios sobre o novo disco. No trabalho, para seguir os protocolos sanitários, Ney tirou tons de música pelo telefone, definiu arranjos à distância e chegou às gravações das vozes sem ensaio. Tudo novo para o cantor conhecido pelas longas preparações de seus projetos musicais.

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