Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Grupo 509-E de Afro-X, criado no Carandiru, revive o rap de crítica social

A banda aborda questões da periferia e fala de superação e novas buscas

Foto: Divulgação
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509-E é a indicação da cela onde estavam presos Afro-X e Dexter no pavilhão 7 do extinto complexo penitenciário do Carandiru. Os dois criaram grupo de rap com essa descrição em 1999, que durou até 2003. Lançaram dois álbuns e ganharam enorme projeção.

Naquela época o 509-E pegou a linha do rap de contestação e denúncia da realidade das pessoas da periferia e do sistema prisional. Dezesseis anos depois o grupo retomou, fez shows, mas, no fim, Dexter preferiu seguir carreira solo.

Afro-X efetivou então o irmão, Bad, formando a nova dupla do 509-E. Bad e Afro-X já participaram juntos de um grupo musical no final dos anos 1980 na região do ABC paulista, onde nasceram e cresceram. O irmão de Afro-X tem trabalho solo lançado, com participação de Mano Brown e Edi Rock, e sempre se envolveu de alguma forma nos projetos do 509-E ao longo de sua história.

Agora, os dois preparam o lançamento de nove singles com videoclipe. Um já saiu, A Segunda Chance, no ritmo do rap clássico dos anos 1990, abordando questões sociais, mas com esperança.

“Segunda chance metaforicamente eu simbolizo como um dia de sol. Todo mundo acredita numa segunda chance, mas nem todos tiveram”, diz Afro-X. A canção remete à música gospel em alguns momentos, notadamente no início.

Afro-X explica que o trabalho do 509-E sempre se baseou na bíblia desde o primeiro trabalho. “Nós não somos religiosos, mas temos nossas crenças”, ressalta a ele, destacando o groove soul na música A Segunda Chance.

No dia 17, o 509-E apresenta a segunda música do projeto: Carro Forte, com participação de Krawk, da nova geração e cria das batalhas de rap.

“Não é apologia. Quando você começa a se dar bem, as pessoas não atribuem o seu mérito”, explica Afro-X sobre a segundo single a ser lançado. “E elas falam: deve estar roubando carro forte”.

Depois vem Anjo 45, com volta a batida dos anos 90 e referenciando Jorge Ben Jor, considerado guia-mor do rap nacional. Entre as músicas a serem lançadas está também Judaria, que retrata um fato da vida de Afro-X que foi parar na UTI depois de baleado. “Muitas fatalidades acontecem por coisas banais”, cita ele.

Megarrebelião, com participação do grupo Comunidade Carcerária, retrata a ineficiência do Estado. “Investimentos deveriam ser na prevenção, na educação, na moradia. A consequência é a cadeia superlotada”, afirma. Em Bora Viver, as possibilidades de se reinventar.

“Se bandido bom é bandido morto eu estaria morto, mas tive oportunidade. Nós conseguimos superar o crime”, afirma.

A produção das músicas é de DJ Pantera (A Segunda Chance, Anjo 45, Corações Dilacerados e Judaria), Black Bone (Carro Forte e Menor do Chapa), Beat Rec (Megarrebelião e Reflexões) e Jonas Leme (Bora Viver).

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