Cultura

Gabeu: ‘Parte do mercado sertanejo foi engolida pela relação com o agronegócio’

Para o artista, precursor do ‘Queernejo’, perda de referências na música caipira explica aproximação do sertanejo com o bolsonarismo

O cantor Gabeu, precursor do 'Queernejo'. Foto: Henrique Suenaga
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Indicado ao Grammy Latino em 2022 por seu álbum Agropoc, o cantor paulista Gabeu é conhecido por deixar a marca da comunidade LGBT+ na música sertaneja. Em suas canções, predominam histórias de romances homoafetivos, desde o momento da paixão até a decepção. Agora, o artista acaba de divulgar Lance Aberto, música em que discute o relacionamento não-monogâmico entre dois homens cis.

Em entrevista ao Instagram de CartaCapital, Gabeu afirmou que ainda há resistência entre os ouvintes de sertanejo em escutar canções que contem histórias de LGBTs, mas que, em geral, tem visto receptividade e interesse por seu trabalho. Ele diz observar que a relação entre o público desse gênero e as forças políticas conservadoras diz mais respeito ao vínculo com o agronegócio do que especificamente com ideias homofóbicas.

“O sertanejo tem um vínculo muito grande com o agronegócio, mais do que ideias machistas e homofóbicas”, afirmou o cantor, que tem 25 anos e é filho de Solimões, da famosa dupla com Rionegro.

Gabeu diz que tem feito um movimento de “resgate cultural” para recuperar referências na música caipira, nas quais há uma expressão maior de pensamentos progressistas, segundo sua impressão. Para ele, os artistas e os ouvintes do gênero deveriam trilhar um caminho semelhante para trabalhar determinadas representações.

Além disso, ele diz que o agronegócio deve ser questionado pelo tratamento às terras e aos trabalhadores do campo.

“Se a gente olhar para onde o sertanejo começou, a gente vai encontrar músicas que falavam muito sobre a ascensão do povo pobre, do povo simples do campo, que cantavam sobre as dores e os prazeres de ser uma pessoa camponesa”, avalia. “Parte do mercado sertanejo foi engolida pela relação com o agronegócio. Quando a gente pensa no homem do campo, hoje, a gente pensa num fazendeiro, o que não é a mesma coisa.”

A entrevista está na íntegra na aba de vídeos no Instagram de CartaCapital.

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