Cultura

Fernanda Takai: ‘Muita gente virou as costas para o Pato Fu porque a vocalista é mulher’

A banda está em período de celebrações pelo aniversário de 30 anos, com músicas inéditas e uma nova turnê. Assista à entrevista

Fernanda Takai, entre os colegas Ricardo Koctus, Xande Tamietti, John Ulhoa e Richard Neves. Foto: Click Estudio
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Próximos do lançamento de um álbum e de uma turnê, em março, os integrantes da banda Pato Fu estão em período de celebrações pelo seu aniversário de 30 anos. Ao longo de 13 discos, a banda conquistou um troféu no Grammy Latino e chegou a ser eleita pela revista americana Time como uma das dez melhores do mundo.

Em entrevista a CartaCapital, a vocalista Fernanda Takai, aos 51 anos, diz que hoje percebe críticas no passado pelo fato de o Pato Fu ter uma mulher como figura central.

Apesar das experimentações em diferentes estilos, o grupo é usualmente identificado como uma banda de rock e tem como marca a mistura do uso da guitarra e do som eletrônico ao timbre suave tão característico da cantora.

“Quando a gente começa na música, existe certa ingenuidade. A gente está tão empenhado em fazer aquilo dar certo que, às vezes, não enxerga alguns preconceitos”, afirma. “Hoje, eu acho que tem muita gente que, no início de carreira, virou para o Pato Fu, ou falou que não gostava do Pato Fu, simplesmente porque era uma vocalista mulher.

Takai menciona o sucesso de Os Mutantes, em que Rita Lee também impressionava com o seu timbre suave, como um dos principais exemplos de uma banda de rock com grande valor artístico. Ela também menciona a notória presença feminina nas bandas Blitz e Sempre Livre. Ainda assim, a vocalista do Pato Fu diz que se deu conta de limitações no seu percurso, porque havia poucas mulheres nesse universo.

“Olhando para trás, a gente diz: ‘nossa, eu acho que não estive escalada nesse festival, talvez, porque eu fosse mulher'”, declarou. “Ou então, em um festival enorme, só tinha eu de mulher como vocalista. E aí você fica pensando: ‘a gente precisa mesmo ocupar mais esses espaços’“.

Natural de Serra do Navio, no Amapá, Takai cresceu em uma família em que não havia músicos. Após uma passagem na Bahia, até chegar em Minas Gerais, ela se graduou em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, e conciliou por anos a atividade com o seu projeto independente.

Compositora, multi-instrumentista e escritora, Takai diz que a sua influência artística vem do fato de seus pais terem sido ouvintes assíduos da música brasileira. O Pato Fu dialoga muito com o pop e cativou fãs em trilhas de novela, diz ela, mas a busca pela originalidade é visível em todas as suas eras.

“A gente é uma banda que se considera pop rock. Tem canções pop e mais experimentais, que não vão tocar em rádio nenhuma”, brinca ela. “Acho que uma parcela da carreira atendeu o mercado, mas por nossa própria vontade. Tem uma inquietação com a sonoridade, em como falar sobre determinado assunto e não da maneira mais óbvia.”

Parte das músicas inéditas desse período de comemorações já está disponível em plataformas de streaming. Um destaque é Silenciador, cuja letra se relaciona diretamente com a ascensão de forças ultraconservadoras, marcadas pelo uso do discurso religioso para a disseminação da intolerância.

Na música, Takai canta: “Deus fala pelo cano de meu revólver, e a Bíblia é o meu silenciador”. Questionada sobre o teor da composição, diz que houve cuidado para não “generalizar” a população religiosa, mas que a ideia era tratar de um recado em relação a um movimento específico observado nos últimos anos.

“A gente tenta falar sobre isso de uma maneira dura, mas eu tenho certeza de que as pessoas que são de religiões diferentes vão saber ler sobre quem a gente está falando. A gente não está generalizando. A gente está falando sobre pessoas que juntam essas duas forças que, a princípio, parecem antagônicas.”

A entrevista está disponível na íntegra no Instagram de CartaCapital, na aba de vídeos.

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