Cultura

Cannes começa com filme de zumbis e polêmica sobre machismo

Abertura também teve espaço para alfinetadas na plataforma Netflix, que pela terceira edição seguida fica fora do festival

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O pontapé inicial da 72ª edição do Festival de Cinema de Cannes foi dado na noite desta terça-feira 14 com uma projeção de “Os Mortos Não Morrem”, um filme de zumbis do americano Jim Jarmush. Porém, antes mesmo da cerimônia de abertura, um escândalo sacudiu o evento, com um protesto contra a homenagem prevista para o ator Alain Delon, acusado de machismo, racismo e homofobia.

Depois do ritual da subida das famosas escadarias do Palácio dos Festivais, a cerimônia de abertura começou com uma homenagem à diretora Agnès Varda, que faleceu no mês de março, e cuja imagem ilustra o cartaz do evento. Em seguida vieram as alfinetadas do ator Édouar Baer contra a plataforma Netflix, banida do festival desde que os organizadores decidiram que apenas os filmes projetados em salas de cinema podem concorrer na Croisette.

Parte do elenco de “Os Mortos Não Morrem”, filme de zumbis do americano Jim Jarmush que abriu o Festival de Cannes

O mestre de cerimônia celebrou a magia das salas obscuras e lembrou que assistir um filme nas telonas “é bem melhor do que comer uma pizza em frente da televisão”. As declarações seguiam na esteira das críticas feitas na sequência pelo presidente do júri, o mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu, que martelou na “experiência comum” propiciada pelo cinema.

Após o anúncio da abertura oficial, feito pela atriz francesa Charlotte Gainsbourg e o espanhol Javier Bardem, o público pode ver pela primeira vez o novo filme de Jim Jarmush. Uma espécie de “A Volta dos Mortos Vivos” que reúne no elenco estrelas como Bill Murray e Tilda Swinton, mas também Iggy Pop, Chloë Sevigny e Selena Gomez.

Machismo, racismo e homofobia condenados

Mas durante o dia um dos principais assuntos em Cannes não eram os zumbis de Jarmush, e sim a Palma de Honra que será dada pelo festival a Alain Delon no domingo 19. Principalmente após um abaixo-assinado por quase 20 mil pessoas contra a escolha dos organizadores.

O ator, que durante muito tempo foi um dos principais representantes do cinema francês no mundo, é frequentemente criticado por suas declarações radicais. A estrela de filmes como “Rocco e Seus Irmãos”, de Luchino Visconti, e “O Sol por Testemunha”, de René Clément, disse publicamente que já bateu em mulheres e lançou inúmeras frases vistas como insultos contra minorias.

Os responsáveis pelo abaixo-assinado acusam claramente Delon de machismo, racismo e homofobia, e consideram que o ator não merece esse tipo de homenagem. “Ele é livre para ter suas opiniões, mesmo se não concordo com elas”, declarou Thierry Frémaux, delegado-geral do Festival de Cannes. “É complicado analisar com as lentes de hoje coisas que aconteceram ou foram ditas há anos”, tentou justificar. Até a hora da abertura, os organizadores do evento não contestavam a Palma de Honra para o ator.

Retorno de gigantes do cinema

A edição 2019 é marcada principalmente pelo retorno de alguns nomes de peso, que participam na corrida pela Palma de Ouro. Quentin Tarantino, que celebra os 25 anos de “Pulp Fiction”, apresenta o esperado “Era Uma Vez em Hollywood” (“Once Upon a Time… in Hollywood”), com Brad Pitt e Leonardo DiCaprio no elenco, enquanto Ira Sachs concorre com “Frankie”, com Isabelle Huppert no papel principal, e Terrence Malick traz “A Hiden Life” (ainda sem título em português).

O mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu, presidente do júri

Alguns dizem que essa volta em massa de diretores norte-americanos na competição principal de Cannes seria uma resposta à disputa recente do evento francês com a Netflix. Pela terceira edição seguida, os organizadores do festival barram a entrada das produções da plataforma, alegando que apenas filmes destinados às telonas podem concorrer. Uma postura que fez as más línguas afirmarem que Cannes vira as costas para as melhores produções cinematográficas do momento – como “Roma”, um produto Netflix, que arrebatou todos os prêmios por onde passou.

Queridos, mas nunca vencedores

Mas além da participação expressiva dos americanos, esta edição também é marcada pela presença de dois pilares do Festival de Cannes. De um lado o espanhol Pedro Almodóvar, com “Dolor y Gloria”, que já passou seis vezes pela Croisette e chegou a presidir o júri em 2017. Do outro, o italiano Marco Bellocchio, que concorre com “O Traidor” (“Il Traditore”), filme parcialmente rodado no Brasil. A particularidade dos dois diretores é que ambos são velhos conhecidos do tapete vermelho de Cannes, mas nunca ganharam a Palma, apesar das longas carreiras de sucesso.

Sonia Braga como Domingas em “Bacurau” (Foto: Victor Jucá)

Já entre os latino-americano, as chances de levar o prêmio principal são menores, pois apenas o brasileiro “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, representa a região na corrida pela Palma. Mas outros vizinhos devem atrair a atenção em Cannes. É o caso do jogador de futebol Diego Maradona. Ele será o tema de mais um documentário sobre sua vida. Exibido em uma mostra paralela, o filme é dirigido pelo britânico Asif Kapadia, o mesmo que conquistou o público contando a vida da cantora Amy Whinehouse ou do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna.

Outro grande nome que estará em Cannes este ano é o cantor Elton John, cuja vida inspirou um longa de ficção, que também tem estreia mundial na Riviera Francesa.

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