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Bolsonaro atuou para favorecer empresas privadas na compra de cloroquina
Documento obtido pela CPI mostra que ao conversar com a Índia, o presidente ajudou dois empresários que são seus apoiadores
A CPI da Covid obteve um telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores que mostra que o presidente Jair Bolsonaro atuou para favorecer duas empresas privadas que fabricam cloroquina.
Em abril de 2020, o presidente brasileiro telefonou ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e solicitou que o país acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.
O telegrama obtido pela CPI e divulgado pelo jornal O Globo transcreve o telefonema no qual o presidente cita nominalmente as empresas EMS e Apsen.
“O sucesso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 nos faz ter muito interesse nessa remessa indiana. Estou informado de que um carregamento de 530 quilos de sulfato de hidroxicloroquina está parado na Índia, à espera de liberação por parte do governo indiano. Esse carregamento inicial de 530 quilos é parte de uma encomenda maior, e foi comprado pela EMS”, afirmou Bolsonaro.
O presidente prosseguiu: “Adianto haver, também, mais carregamentos destinados a uma outra empresa brasileira, a Apsen. Este, como eu dizia, é um apelo humanitário que submetemos a nosso prezado amigo Narendra Modi, e que, se atendido, poderá salvar muitas vidas no Brasil.”
Empresários bolsonaristas
O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é um apoiador de Bolsonaro. Ele declarou voto no atual presidente em 2018 e tinha várias postagens nas suas redes sociais com ataques a seus adversários e defesa do governo. Ontem, ele foi convocado a prestar depoimento na CPI da Covid.
O CEO da EMS, Carlos Sanchez, já foi recebido por Bolsonaro para reuniões no Palácio do Planalto e participou recentemente de jantar com empresários realizado em São Paulo no qual o presidente foi ovacionado.
Na época, Bolsonaro divulgou em suas redes o contato que fez com Modi, mas não citou as empresas para qual ele atuou.
Ao Globo, tanto a Apsen quanto a EMS afirmam que têm relação apenas institucional com o governo brasileiro.
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