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O showzinho de Dallagnol ficou barato

Ex-procurador é condenado a pagar 75 mil reais a Lula. A defesa pedia 1 milhão

O showzinho de Dallagnol ficou barato
O showzinho de Dallagnol ficou barato
Imagem: Redes sociais
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“Tá ficando show”, gabou-se o procurador Deltan ­Dallagnol, então chefe da força-tarefa da Lava Jato, ao discutir com colegas os detalhes da apresentação em PowerPoint que faria à mídia para explicar a denúncia contra Lula no caso do tríplex. A mensagem pelo Telegram figura no extenso material apreendido pela Polícia Federal com os hackers de Araraquara, que sequestraram dados dos celulares do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores da “República de Curitiba”.

Conforme havia antecipado aos subordinados no dia anterior, Dallagnol promoveu um verdadeiro espetáculo em 14 de setembro de 2016. Diante das câmeras de tevê, apontou Lula como o “comandante máximo” do esquema de corrupção na Petrobras, usando como artifício retórico um ­slide no qual o nome do ex-presidente figurava no centro da tela, sendo torpedeado por setas com as ilações e “convicções” do Tribunal do Santo Ofício paranaense. Passados cinco anos e meio, o procurador foi condenado a pagar 75 mil reais de indenização ao ex-presidente pelos ataques à sua reputação durante a inusual e patética entrevista coletiva. Saiu barato, a defesa pedia 1 milhão.

A decisão é da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça. Por 4 votos a 1, os integrantes do colegiado entenderam que o procurador abusou de “expressões e qualificações desabonadoras da honra”, como resumiu o relator do caso, ministro Luís Felipe Salomão. À época, Dallagnol apresentou ­Lula como “o grande general” e mentor do que chamou de “propinocracia”. Com a correção do valor da indenização, fixado para a data da entrevista, o procurador pode ter de pagar mais de 100 mil reais ao ex-presidente, mas ainda cabe recurso dentro da própria Corte.

O caso expõe, ainda, o corporativismo entranhado no Conselho Nacional do Ministério Público, o CNMP. Após adiar 41 vezes o julgamento da reclamação interposta pela defesa de Lula, o órgão de correição deixou prescrever o prazo para instaurar um procedimento disciplinar contra Dallagnol e arquivou o caso em agosto de 2020.

Gesto de grandeza

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e colunista de CartaCapital, desistiu de concorrer ao governo de São Paulo e vai disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSOL. Em entrevista ao programa Direto da Redação, em nosso canal no YouTube, ele enfatizou a necessidade de reforçar a base progressista no Congresso e lamentou não ter sido possível construir uma unidade em torno de seu nome na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. “Não vou ter uma candidatura que cumpra o papel de dividir a esquerda num momento tão grave como este.”

Igreja Católica/ A reforma de Francisco

Leigos e mulheres são autorizados a chefiar departamentos do Vaticano

“Todo cristão é também um missionário“, afirma o papa – Imagem: M.Mazur/Catholic Church England

O papa Francisco promulgou, no sábado 19, uma nova Constituição que reestrutura a administração do Vaticano, introduzindo mais transparência financeira e abrindo espaço para mulheres e leigos. O novo texto, que entrará em vigor em 5 de junho, reforma a Cúria Romana e substituirá a Pastor Bonus promulgada em 1988 por João Paulo II.

Entre as principais inovações figura a previsão de que todo católico batizado pode chefiar departamentos no Vaticano, incluindo mulheres e pessoas de fora do clero. Até agora, a maioria dos departamentos do Vaticano foi chefiada por sacerdotes do sexo masculino, geralmente cardeais.

Ao esclarecer a mudança, Francisco enfatizou que todo cristão é um missionário. “Não se pode deixar de levar isso em conta na atualização da Cúria, cuja reforma deve garantir a participação de leigos e mulheres, inclusive em funções governamentais e de responsabilidade”, disse.

A Praedicate Evangelium (Pregar o Evangelho), publicada no nono aniversário do pontificado de Francisco, também inclui a Comissão do Vaticano para a Proteção de Menores, um órgão consultivo do papa, ao dicastério que supervisiona as investigações de casos de abuso sexual do clero. Para o cardeal Sean O’Malley, que preside o colegiado, trata-se de um “avanço significativo” que dará peso institucional à luta das vítimas.

Assédio autoritário

A antropóloga brasileira Rosana Pinheiro Machado foi laureada pelo European Research Council, da União Europeia, com um financiamento de 2 milhões de euros (cerca de 11 milhões de reais) para desenvolver uma pesquisa sobre governos autoritários. Trata-se de uma das bolsas mais prestigiadas do mundo acadêmico, não apenas pelo valor monetário. De 2007 a 2021, nove pesquisadores apoiados pelo centro europeu ganharam o Prêmio Nobel. O estudo começa em maio e deve estender-se por cinco anos. A pesquisadora da Universidade de Bath, no Reino Unido, pretende analisar como governos populistas e autoritários recrutam apoiadores por meio de mensagens sobre empreendedorismo, com foco nos trabalhadores precarizados da economia digital, como os motoristas de aplicativo.

Aviação/ Tragédia nas montanhas

Acidente aéreo mata 123 passageiros e 9 tripulantes na China

O avião estava em voo de cruzeiro no momento da queda – Imagem: Redes sociais

Na segunda-feira 21, um avião da China Eastern Airlines com 123 passageiros e 9 tripulantes caiu em uma região montanhosa ao sul do país asiático, sem deixar sobreviventes. De acordo com a Administração de Aviação Civil da China, a ­aeronave havia partido da cidade de Kunming com destino a Guangzhou. O piloto perdeu contato com os controladores de voo enquanto sobrevoava a cidade de Wuzhou. Na queda, o avião ficou completamente desintegrado e provocou um incêndio florestal.

O avião era um Boeing 737-800 com seis anos de fabricação. Registros climáticos apontam que havia nebulosidade no trajeto percorrido, mas não a ponto de prejudicar a visibilidade. O desastre chamou atenção de especialistas. Acidentes durante a fase de cruzeiro são relativamente raros, embora essa etapa represente a maior parte do tempo de voo.

De acordo com um relatório publicado pela Boeing no ano passado, apenas 13% dos acidentes com vítimas em voos comerciais de todo o mundo aconteceram durante a fase de cruzeiro, enquanto 28% ocorreram na aproximação final e 26%, no pouso. O estudo inclui dados de 2011 a 2020.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1201 DE CARTACAPITAL, EM 30 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”

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