CartaCapital
Neymar/ Náufrago da bola
Passageiros do cruzeiro “Ney em Alto-Mar” entraram pelo cano


A promessa dos organizadores do cruzeiro era oferecer “72 horas de ousadia e alegria a bordo com um dos maiores ídolos do futebol”, mas a aventura marítima com Neymar, atacante do clube saudita Al-Hilal e da Seleção Brasileira, coleciona reclamações de passageiros: goteiras no navio, festas impróprias para menores, fãs esnobados, comida ruim e denúncias de assédio.
Para desfrutar o cruzeiro “Ney em Alto-Mar” era preciso desembolsar ao menos 4,7 mil reais, o preço da cabine mais barata – interna, quádrupla e sem janelas. Opções menos claustrofóbicas foram vendidas por até 30 mil reais. Apesar do preço salgado, o café da manhã deixava a desejar até mesmo na comparação com pousadas populares. “Estou comendo pão com manteiga e café com leite”, lamentou a empresária da moda Vannini, que também se incomodou com a presença de crianças nas permissivas festas do navio. “Deveria ter sido estabelecido limite de idade para a venda das cabines, tipo hotel adults only”, sugeriu a passageira, a bordo com o filho pequeno.
Já o cantor Kawe ficou estarrecido ao se deparar com uma cascata vertendo do teto de um dos corredores. “O navio tá vazando?”, questionou o artista. Nas redes sociais, relatos de desaparecimento de joias. “Não dá para acreditar mano, todos meus anéis, as dedeiras sumiram”, escreveu Mc Daniel. Era uma fake news combinada com a plataforma de streaming Netflix, que usou o episódio para divulgar sua nova série, Berlim. Em uma publicação no Instagram, o ator Pedro Alonso, que interpreta o protagonista, um dos ladrões do aclamado seriado La Casa de Papel, aparece com os anéis do cantor brasileiro na mão e a provocativa legenda: “Deu mole, Mc Daniel”.
Para completar o circo de horrores, Mc Pipokinha, outra celebridade presente no navio, disse que mulheres foram vítimas de assédio e agressões. “Estamos aqui nas fofocas do cruzeiro. Sabe que teve um monte de mulher que apanhou porque não quis ficar com os famosos?”, indagou em vídeo, na presença de outras passageiras. “Eles não são acostumados a ouvir não, né?”
Quem não pode se queixar é o próprio Neymar. Recuperando-se de uma lesão no joelho esquerdo e há tempos sem brilhar nos gramados, o astro deve faturar 20 milhões de reais com o cruzeiro promovido. Sobre as críticas de não interagir com fãs, inclusive crianças a bordo do navio, o boleiro recorreu ao velho bordão: “Fiz o máximo que pude”. Aparentemente, nada.
Natal aquecido
As vendas em shopping centers na semana de 19 a 25 de dezembro de 2023 cresceram 0,6% em comparação com o mesmo período de 2022 e chegaram a 5,6 bilhões de reais. Os dados, coletados pelo índice Cielo, foram divulgados na terça-feira 2 pela Associação Brasileira de Shopping Centers, a Abrasce. Trata-se do melhor resultado desde 2019, ano anterior ao início da pandemia da Covid-19.
São Paulo/ Odiosa perseguição
Vereador bolsonarista emplaca CPI para constranger o padre Júlio Lancellotti
Além da evidente má-fe, Rubinho Nunes está desinformado – Imagem: André Bueno/Câmara SP
O vereador bolsonarista Rubinho Nunes, um dos fundadores do MBL, conseguiu coletar as assinaturas necessárias para instalar a “CPI das ONGs” na Câmara Municipal de São Paulo. A investigação mira a atuação do padre Júlio Lancellotti, da Paróquia de São Miguel Arcanjo, que realiza trabalho assistencial na região central da cidade, incluindo a área da Cracolândia. O requerimento inicial menciona, sobretudo, duas entidades que atendem a população em situação de rua e dependentes químicos: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e a Craco Resiste. “Existe uma chamada máfia da miséria para obter ganhos por meio da boa-fé da população e isso não é ético nem moral. O padre Júlio é o verdadeiro cafetão de miséria”, vocifera o vereador do União Brasil.
Além da evidente má-fé, Nunes está desinformado. Lancellotti é coordenador da Pastoral do Povo de Rua, mas não tem ligação com o Bompar há mais de 15 anos. Atualmente, a entidade católica administra a rede municipal de Consultórios de Rua, em convênio com a prefeitura. Já a Craco Resiste é um coletivo sem vínculo com a Igreja, que atua em projetos de redução de danos. “Basta fazer uma consulta ao Portal da Transparência. Se fizerem isso, tenho certeza de que não vão encontrar meu nome ali, nem de qualquer entidade da qual eu faça parte. A Pastoral da População de Rua nem sequer possui personalidade jurídica”, esclareceu o padre, em entrevista à edição especial de fim de ano de CartaCapital.
Fim do calote
Após o STF atender a um pedido da União em duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, já está sendo liberado pelos Tribunais Regionais Federais o saque dos precatórios que deixaram de ser pagos no governo Bolsonaro, além de parte dos valores relativos ao calendário de pagamentos de 2024. Segundo o Tesouro Nacional, o montante total dos precatórios é de 93,14 bilhões de reais, dos quais 27,2 bi serão destinados a aposentados e pensionistas do INSS que venceram ações de concessão ou de revisão de seus benefícios. Os saques serão feitos na Caixa de acordo com o cronograma estabelecido em cada TRF.
Última Milha/ Software espião
PGR cita suspeita de corrupção de Ramagem na Abin sob Bolsonaro
Segundo a PGR, o delegado tentou ocultar o uso irregular do First Mile – Imagem: Valter Campanato/ABR
Pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL, o deputado federal Alexandre Ramagem foi citado pela Procuradoria-Geral da República como suspeito de corrupção passiva na época em que chefiou a Agência Brasileira de Inteligência no governo Bolsonaro. Segundo a PGR, Ramagem teria impedido a divulgação de informações sobre o uso irregular do software espião israelense FirstMile, capaz de fazer o rastreamento de celulares por GPS e utilizado contra vários adversários políticos do clã.
As investigações da Operação Última Milha, realizada pela Polícia Federal, resultaram na prisão de dois servidores da Abin, Eduardo Izycki e Rodrigo Colli, acusados de usar o conhecimento sobre o uso ilegal do software espião pelo governo para evitar suas demissões em um processo disciplinar interno. Segundo a PGR, Ramagem, provocado pelos servidores, retardou o julgamento do processo, logo depois transformado em diligência. Além disso, o então chefe da Abin deixou de apresentar os resultados da investigação interna ao Gabinete de Segurança Institucional.
Cartão de crédito/ Vilão do endividamento
Juros do rotativo não podem mais exceder valor original da dívida
Em outubro, as operadoras cobravam, em média, 431% de juros ao ano – Imagem: iStockphoto
Acabou a farra dos juros extorsivos do cartão de crédito, que podiam quadruplicar o valor devido no intervalo de um ano. A partir de 3 de janeiro, a dívida total de quem atrasa a fatura, incluídos os juros e encargos, não poderá ultrapassar o dobro do débito original. A decisão do Conselho Monetário Nacional foi anunciada no fim de 2023. Em outubro, o Senado aprovou uma lei com esse dispositivo, mas concedeu prazo de 90 dias para as operadoras apresentarem uma proposta razoável para evitar o superendividamento dos clientes. Diante da recusa do mercado financeiro em apresentar soluções, passou a valer a regra definida pelos parlamentares.
O rotativo do cartão é a modalidade de crédito mais cara do País. Em outubro, as operadoras cobravam, em média, 431% de juros ao ano. Se um cliente deixasse de pagar uma fatura de 100 reais, ao término de 12 meses sua dívida poderia ser superior a 431 reais, com os juros e encargos. Pela nova regra, ele pagará, no máximo, 200 reais – o dobro do débito original. Somente o custo do Imposto Sobre Operações Financeiras, o IOF, está fora desse cálculo. Vale destacar, porém, que o teto só vale para dívidas contraídas a partir de 3 de janeiro. Antes disso, prevalece a taxa fixada pelas operadoras.
Perigo no ar
Dois helicópteros caíram e um desapareceu no intervalo de dois dias. Na cidade mineira de Capitólio, um deles despencou, na terça-feira 2, sobre o Lago de Furnas, causando a morte de um passageiro. O piloto e outros dois ocupantes foram resgatados com vida. No mesmo dia, um equipamento adaptado para pulverização de defensivos agrícolas desabou em uma fazenda entre os municípios maranhenses de Santa Luzia e Buriticupu. O piloto estava sozinho e morreu na queda. A aeronave pertencia a ele, mas estava com o Certificado de Aeronavegabilidade, que atesta as condições de voar com segurança, suspenso. Antes desses acidentes, um helicóptero com quatro tripulantes sumiu na Serra do Mar em 31 de dezembro, após decolar do aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, em direção a Ilhabela, no Litoral Norte paulista. As buscas prosseguiam até o fechamento desta edição.
Armas de fogo/ A conta-gotas
Exército volta a autorizar registros de CACs, mas sob regras rígidas
O número de novos cadastros de armas despencou 82% em 2023 – Imagem: iStockphoto
A partir de janeiro, o Exército voltará a emitir autorizações de posse de armas de fogo para caçadores, atiradores esportivos e colecionadores, os chamados CACs. Novas permissões estavam suspensas desde o início de 2023, mas a força lançou uma portaria, no fim de dezembro, com regras atualizadas para a emissão dos Certificados de Registro.
Agora, os CACs terão de renovar os registros a cada três anos. Pela regra anterior, a validade era de dez anos. Em seu terceiro mandato, Lula endureceu as regras para a compra de armas, revertendo a flexibilização adotada por Jair Bolsonaro. Um decreto presidencial de julho reduziu, por exemplo, a quantidade de armamentos e munições que cada civil pode ter.
O maior rigor deu resultado. O número de novos registros de revólveres, pistolas, rifles e fuzis para defesa pessoal em 2023 foi o menor desde 2004, segundo a Polícia Federal. O Sistema Nacional de Armas contabilizou 20.822 novos cadastros, 82% a menos que em 2022 (114.044).
Israel/ Freio ao absolutismo
Suprema Corte anula a controversa reforma judicial de Netanyahu
Antes da guerra, centenas de milhares saíram às ruas contra a lei – Imagem: Jack Guez/AFP
Por 8 votos a 7, o Supremo Tribunal de Israel revogou, na segunda-feira 1º, a lei que restringia poderes do Judiciário e abria a possibilidade de decisões da Corte serem revistas pelo Parlamento, onde o premier Benjamin Netanyahu tinha folgada maioria até os ataques do Hamas em 7 de outubro do ano passado, quando mais de 1,2 mil civis israelenses foram assassinados pelo grupo armado palestino. O episódio foi o estopim para a incursão militar de Israel em Gaza, que já provocou a morte de 22 mil palestinos até o fim de 2023 – 70% das vítimas são mulheres ou crianças.
A reforma judicial levou centenas de milhares de israelenses às ruas. Os manifestantes temiam uma concentração de poder ainda maior na coalizão de ultradireita liderada por Netanyahu. Segundo a Suprema Corte, a nova legislação foi anulada devido “ao perigo severo e sem precedentes para a essência do Estado de Israel enquanto país democrático”.
Já o governo israelense usou a guerra como pretexto para criticar a decisão, apontada como contrária à “unidade necessária” para o sucesso dos militares na linha de frente do combate. Convenientemente, o gabinete de Netanyahu esqueceu-se de mencionar que o Hamas explorou as graves falhas de segurança cometidas por sua equipe de Defesa e que sua política expansionista sobre as áreas palestinas só fortaleceu os grupos extremistas.
Nobel da Paz condenado
Laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus foi condenado, na segunda-feira 1º, por supostas violações à legislação trabalhista em Bangladesh. Apoiadores do economista e a Anistia Internacional acusam o governo da premier Sheikh Hasina, que exerce forte influência sobre o Judiciário local, de promover uma perseguição política. “O professor Yunus e três de seus colegas da Grameen Telecom foram considerados culpados de acordo com a legislação trabalhista e condenados a seis meses de prisão”, anunciou o promotor Khurshid Alam Khan, em Daca. Os quatro foram libertados sob fiança. Em campanha pela reeleição, Hasina acusa Yunus de “sugar o sangue” dos mais necessitados. Criador de um banco de microcrédito que ajudou milhões de habitantes de Bangladesh a sair da pobreza, o economista era visto como um potencial rival no pleito.
EUA/ Percalços em série
Mais um estado americano nega registro à candidatura de Trump
O ex-presidente está impedido nas urnas do Colorado e do Maine – Imagem: AFP/Arquivo
O ex-presidente dos EUA Donald Trump recorreu, na terça-feira 2, da decisão da principal autoridade eleitoral do Maine de afastá-lo das prévias presidenciais neste estado do nordeste do país. Na semana anterior, o Maine juntou-se ao Colorado para impedir que Trump esteja nas cédulas de votação das primárias por seu papel na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
A defesa alega que a secretária de Estado do Maine, a democrata Shenna Bellows, tomou uma decisão “tendenciosa” e “agiu de maneira arbitrária e caprichosa”. Antes disso, a Suprema Corte do Colorado decidiu, em dezembro, que Trump, favorito para a indicação presidencial republicana de 2024, não deve estar nas cédulas de votação das primárias nesse estado.
A decisão invoca a 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, cuja Seção 3 proíbe qualquer pessoa de ocupar um cargo público se tiver participado de uma “insurreição ou rebelião” depois de ter-se comprometido a apoiar e defender a Carta Magna.
Japão/ Sucessão de tragédias
Terremotos, alerta de tsunami e colisão de aviões marcam início de 2024
Os desastres deixaram quase 80 mortos e um rastro de destruição – Imagem: Kazuhiro Nogi/AFP e STR/Jiji Press/AFP
Com fama de colecionar superstições, o povo japonês deve estar angustiado com o trágico início de 2024. Nas primeiras horas do ano, um terremoto de magnitude 7,6 devastou a província de Ishikawa, provocando 73 mortes e a remoção forçada de quase 100 mil habitantes. Mais de 150 tremores secundários foram registrados nas 24 horas que sucederam o sismo, o que elevou as autoridades japonesas a alertar para o risco de tsunamis na região – aviso depois descartado.
Os japoneses ainda procuravam sobreviventes entre os escombros quando receberam a notícia de outro desastre, desta vez no aeroporto de Haneda, em Tóquio. Um Airbus A350 da Japan Airlines, com 379 passageiros e tripulantes a bordo, bateu em um avião da Guarda Costeira que taxiava na pista e pegou fogo. Cinco dos seis ocupantes dessa aeronave de menor porte morreram no acidente, informou o ministro dos Transportes do Japão, Tetsuo Saito. Apesar do incêndio provocado pela colisão em solo, todos os ocupantes do Airbus foram resgatados com vida. Dezessete deles ficaram feridos, segundo a NHK, emissora pública do país.
Felizmente, a série de terremotos não provocou outro desastre nuclear no país. Em março de 2011, um tremor seguido por tsunami causou o derretimento de três dos seis reatores da Central Nuclear de Fukushima. À época, cerca de 160 mil moradores foram removidos às pressas. Sete anos depois, o governo japonês confirmou a morte de um trabalhador de Fukushima, com câncer decorrente da exposição à radiação. O desastre aéreo em Tóquio também poderia ter consequências mais graves. Em 1977, uma colisão em solo entre dois Boeings 747, um da Panam Airways e outro da KLM, provocou a morte de 583 pessoas na pista do aeroporto Los Rodeos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias.
Na ponta da faca
Líder do Partido Democrata, a maior legenda de oposição da Coreia do Sul, Lee Jae-myung foi esfaqueado no pescoço durante uma visita à cidade portuária de Busan, na terça-feira 2. Levado consciente a um hospital da região, ele depois foi transferido de helicóptero para outro centro médico de Seul, onde acabou submetido a uma cirurgia para reparar um vaso sanguíneo. Na UTI, apresentava um quadro clínico estável, sem risco de morte. O agressor de 67 anos foi preso no local e indiciado por tentativa de homicídio. Em 2022, Lee perdeu as eleições presidenciais para o conservador Yoon Suk-yeol, do Partido do Poder Popular, por uma diferença de menos de 250 mil votos. O país asiático tem perto de 51 milhões de habitantes.
Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 10 de janeiro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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