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Jornalistas, em vez de torcedores

Impecável o desempenho dos Kfouri, pai e filho, desde sempre admiradores de Sócrates, o jogador e o cidadão

O líder sindical e o jogador já eram próximos – Imagem: Mário Leite/Folhapress
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Um engodo árabe ronda o futebol mundial. De fato, há quem leve a sério as atividades que emissoras a serviço do conluio capaz de arregimentar o interesse até de clubes ingleses. Quanto aos brasileiros, nem se fale. As televisões nativas já transmitem os programas árabes e o País parece estar preparado a participar de um singular Mundial, organizado na moldura de um plano animado por propósitos planetários. A gestão atual do futebol brasileiro deixou bem clara a decisão de participar deste torneio realizado à revelia da Fifa.

Gostaria de conhecer o pensamento dos jornalistas brasileiros que levam a profissão a sério em lugar de ficar torcendo aos berros. Aludo em primeiro lugar a um grande e velho amigo sempre empenhado em defender as causas mais dignas, ou seja, Juca Kfouri, que conheço desde quando convivíamos na Editora Abril, a ficar claro que eu sou muito mais velho do que ele. Com igual talento conheço-lhe o filho, André, que vi pela primeira vez menino em companhia de Sócrates, líder então da Democracia Corintiana.

O golpe de calcanhar, especialidade do craque – Imagem: Rolando de Freitas/Estadão Conteúdo

Muitas vezes o encontrei em outras ocasiões até à beira do concierge de um hotel romano. Aluno de excelente escola, André também merece todo o meu respeito, e deles, pai e filho, gostaria de entender seu pensamento em relação a esta aventura árabe e a pronta adesão dos nossos eternos sonhadores de mais um Mundial, entregue à responsabilidade do coach de uma seleção que não ganha nem mesmo contra a Colômbia. Não terei saudade, certamente, de João Havelange e Ricardo Teixeira. Felizmente, adentrou ao gramado o rei Pelé, logo mais secundado por Rivaldo, que de bola tudo sabia.

A redação da revista Placar homenageava o seu ídolo – Imagem: José Nascimento/Folhapress

Apareceu, lá pelas tantas, Neymar, grande talento, mas sem chegar a rei mesmo porque lhe faltava a qualidade toda do soberano e tanto mais o caráter. Quanto às intenções árabes, alguns fatos recentes justificam encarar com a devida seriedade os propósitos daqueles cavalheiros envoltos em panos imaculados. Por quantias irrecusáveis, figuras do futebol europeu já se mudaram para os Emirados, como, por exemplo, o ex-técnico da seleção italiana campeã da Eurocopa, Roberto Mancini, e o dono do meio-campo do Paris Saint-Germain, Marco Verratti.

Juca e André, mestres de caráter e dignidade – Imagem: Rodolfo Conceição/UFSC e Redes sociais

De Sócrates tenho uma lembrança comovida. Convidou-me para um encontro na casa dele, em Alphaville, longe do centro de São Paulo. E, em vez de partir para a habitual cerveja, ofereceu-me um bom vinho tinto e o tomou como se estivesse a cumprir um gesto corriqueiro. Quando nos despedimos, ele saiu no jardim da casa a acenar com a cortesia carinhosa de um velho amigo. E esta é a última lembrança que guardo dele, impressa para sempre. Na derrota brasileira no Sarriá, no Mundial vencido pela Itália em 1982, Juca Kfouri não tinha dúvidas: Sócrates, naquele confronto, fora o melhor dos canarinhos. •

Publicado na edição n° 1291 de CartaCapital, em 27 de dezembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Jornalistas, em vez de torcedores’

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