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Céu canta o fim do “verão eterno” e os obscuros dias atuais

Cantora mostra maturidade na voz em novo álbum

A cantora Céu (Foto: Fabio Audi/Divulgação)
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Quando em 2014 a cantora e compositora Céu passou a fazer shows com músicas de Catch a Fire, registro emblemático de Bob Marley e The Wailers, e dois anos depois lançou Tropix, seu penúltimo álbum, verificou-se uma mudança na carreira da artista: a voz ganhou mais força.

A intérprete lembra esses momentos de mudança: “Desde o show Catch a Fire, onde eu explorava minhas emissões mais altas, e no show Tropicália (2017), no qual mostrava minha tessitura vocal de maneira mais ampla, saí um pouco dessa minha maneira que é mais pra dentro (de cantar).”

Apká! é lançado nesse contexto. Aliás, o título do novo trabalho é uma referência à primeira palavra balbuciada pelo seu segundo filho (hoje com 1 ano e sete meses) quando queria demostrar satisfação. Na época em que captou a manifestação, Céu estava terminando o álbum.

Pupillo, segundo ela, “foi crucial para estimular esse lado de cantora mais para fora”. Ex-Nação Zumbi, o baterista e produtor participa do disco. Ele é pai do segundo filho da cantora que acumula 15 anos de estrada na música.

Nas onze faixas do novo álbum de Céu, Hervé Salters (teclado), Lucas Martins (baixista), Pupillo (bateria) e Pedro Sá (guitarra) dão base a uma voz clara. Há programações eletrônicas de influências diversas e participações musicais do congolês Leonardo Matumona (backing vocal na primeira faixa); Zé Ruivo (teclado) e Marc Ribot (guitarra) na terceira faixa; Seu Jorge no backing vocal da quinta, e o som eletrônico de Tropkillaz na última.

Verão ganha sentido metafórico

A terceira faixa, Forçar o Verão, letra e melodia da própria Céu, clama sobre os tempos atuais. Verão é uma palavra expressiva no país pela sua predominância enquanto estação do ano. Mas ganha sentido metafórico.

Uma nuvem se aproxima do cartão postal

Feito um convidado que ninguém quer receber

Mas quando ele vem

Não quer mais sair

Num sorriso debochado estaciona ali

Ouviram do Ipiranga

Quem foi que ouviu, eu não vi

Estava à sombra de um coqueiro

No céu azul anil

E o tempo fechou

E ninguém viu

Derrubando a rima

Fez-se então frio no Brasil

Pare de forçar o verão

“Escrevi nesse momento de contrastes e de polarização muito forte. Essa composição de fato retrata o cenário político no Brasil, que se estende desde a queda da Dilma”, diz.

“A gente passa por um dos processos mais tenebrosos da história. A música fala sobre a gente encarar isso. Uma reflexão sobre a nossa maneira de conduzir a política. Não só botando o dedo no político, mas em nós mesmos.”

A música remete a essa imagem do verão, do calor dominante (ao pé da letra) no Brasil, para agora “deixar de ser o cartão postal eterno do samba e do carnaval, para vir uma nuvem e tomar conta desse cenário colorido”.

Parem de Forçar o Verão pois não está tudo bem é um alerta.

Outras composições desse álbum – de músicas de amor e duas letras em inglês – bom de se ouvir: Off (Sad Siri) (Céu, Hervé Salters), Coreto (Céu), Corpocontinente (Céu), Pardo (a poesia cortante de Caetano Veloso), Nada Irreal (Céu, Hervé Salters), Make Sure Your Head Is Above (Fernando Almeida), Fênix do Amor (Céu, Hervé Salters, Pupillo), Rotação (Céu, Hervé Salters), Ocitocina (Charged) (Céu, Hervé Salters, Pupillo) e Eye Contact (Céu, Hervé Salters).

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