Pantagruélicas

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Yes, nós temos vinhos

Diante do tarifaço de Donald Trump, é hora de olhar para o vinho brasileiro e seus vários terroirs

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Na Chapada Diamantina, a Uvva aposta no enoturismo e nos microlotes. No Sul, Adolfo Lona, pioneiro dos espumantes nacionais, colhe os frutos de décadas dedicadas ao vinho brasileiro (Fotos: Divulgação)
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A guerra comercial do governo de Donald Trump, com seu muro tarifário para produtos estrangeiros, traz muitas incógnitas, mas no mundo do vinho carrega uma certeza: os preços dos vinhos importados por aqui devem continuar em alta. Pode ser a hora de olhar para o terroir nacional – ou olhá-lo ainda mais atentamente.

Na Chapada Diamantina, mais em Mucugê, nasceu há cerca de dez anos a vinícola Uvva, com a proposta de unir o plantio de uvas para vinhos finos, alta gastronomia e enoturismo. As garrafas já são vendidas em diversas regiões do país e chegam a restaurantes de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Além da produção de vinhos, a Uvva conta com um restaurante e planeja a inauguração de um hotel. O projeto já está pronto, afirma Fabiano Borré, terceira geração da família à frente do negócio. “A região oferece cachoeiras, natureza, vinhos e comida”, resume. Os Borré iniciaram a produção de batata em grande escala nos anos 80, expandindo depois para o café especial, com boa parte da safra exportada. No início dos anos 2010, apostaram no vinho, com foco em microlotes – produções limitadas de uvas cultivadas em áreas específicas da propriedade. Em alguns casos, pouco mais de mil garrafas são produzidas.

No sul de Minas Gerais, pequenos produtores também começam a trabalhar o terroir local. Um exemplo é a vinícola Barbara Eliodora, em São Gonçalo do Sapucaí, região montanhosa do estado. Fundada em 2015 pela família Bernardes e batizada em homenagem à poetisa e inconfidente mineira, a vinícola ganhou projeção após ter um rótulo – o Syrah leve – indicado pela revista inglesa Decanter. Um dos vinhos é maturado em carvalho francês da François Frères, uma das marcas mais respeitadas da França.

Embora novas regiões avancem no mapa enológico nacional, o Rio Grande do Sul mantém a bandeira mais reluzente, especialmente nos espumantes. Um dos destaques é Adolfo Lona, nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, que chegou ao estado na década de 1970 para comandar o setor técnico da Martini & Rossi. Permaneceu ali por mais de três décadas, período em que aprofundou seu conhecimento enológico e viajou a alguns dos principais centros produtores do mundo.

Nos anos 1980, Lona voou até Bordeaux para visitar o Château Margaux. Após horas de conversa com o então diretor técnico Paul Pontallier, ouviu o conselho que guiaria sua carreira: não transplantar o modelo francês para o Brasil, mas trabalhar com as qualidades locais. E seguiu à risca.

Em 2004, lançou seu próprio projeto, focado na produção familiar e no longo tempo de maturação. Recebeu apoio inicial do amigo e restaurateur italiano Danio Braga, referência na enogastronomia brasileira desde o fim dos anos 70. Atualmente, os espumantes de Lona estão em restaurantes do Rio de Janeiro e São Paulo e também em supermercados. Em 2024, foi eleito Viticultor do Ano pelo guia Descorchados, e seu espumante Baron entrou para a lista dos dez melhores vinhos brasileiros da publicação.

Yes, nós temos vinhos.

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