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O que a final do BBB sem ‘camarotes’ revela sobre a cultura de celebridades

Na era das redes sociais, o público anseia por autenticidade e histórias que reflitam suas próprias experiências, rejeitando cada vez mais as narrativas polidas e superficiais

Participantes do BBB24 reunidos na sala. Foto: Reprodução/Globoplay
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Pela primeira vez desde a introdução da dinâmica “Camarotes” x “Pipocas”, em 2020, a final do Big Brother Brasil não contará com a presença de nenhum participante famoso, um “camarote”. A proposta, originalmente concebida para revigorar o formato do programa, dividia os participantes entre aqueles já com alguma exposição na mídia — do esporte à internet, passando pela TV — e anônimos. Agora, parece prevalecer uma nova percepção na relação do público com os realities e, por extensão, com a cultura da celebridades.

Programas como o BBB têm sido catalisadores de uma espécie de ‘democratização’ da fama. Antes vista como inacessível e reservada a um seleto grupo de estrelas e personalidades, a notoriedade parece estar agora ao alcance de qualquer indivíduo dotado de algum carisma. Um fenômeno que dilui as fronteiras entre as celebridades e o público, estabelecendo uma nova ordem em que o “ser famoso” pode nascer justamente do cotidiano das pessoas.

Longe de ser uma rejeição à fama em si, a tendência indica uma crítica ao modo como a fama é comercializada. Na era das redes sociais, o público anseia por autenticidade e histórias que reflitam suas próprias experiências, rejeitando cada vez mais as narrativas polidas e superficiais. Isso indica uma mudança nos critérios de valor do público, que agora valoriza o que percebe como real, abrindo novos caminhos para a compreensão e a aspiração à fama.

Plataformas como o Instagram, X e TikTok permitem que qualquer pessoa, independentemente de status, compartilhe fragmentos de sua vida, opiniões e talentos com uma audiência global. Os “Pipoca”, embora inicialmente sem acesso à fama convencional, podem entrar no programa com uma base de seguidores própria ou, alternativamente, adquirir relevância através da exposição na TV. O público, armado com o poder de voto, decide quem merece ser catapultado do anonimato para o estrelato.

Este novo modelo é intensificado pelos frequentes “cancelamentos” nas redes sociais. O cancelamento desmantela o mito da perfeição que muitos famosos procuram projetar, revelando suas vulnerabilidades e falhas – e não poucas vezes, desencadeando um reposicionamento que os tira do pedestal. Para os famosos, a participação no programa, uma vez vista como uma plataforma segura para amplificar a visibilidade, agora está repleta de riscos.

A desmistificação da fama encolhe o poder tradicional das celebridades, ao mesmo tempo em que aumenta o valor da autenticidade. Não significa que as pessoas deixaram de admirar ídolos; mas muda quem esses ídolos podem ser. Agora, um conhecido dono de lanchonete do bairro pode se tornar tão influente nas redes sociais quanto um ator da novela das nove. Os conglomerados de mídia até podem escolher quem vai para o palco de destaque, mas, agora, é o público que movimenta os holofotes.

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