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Em futuro não tão distante, o BBB pode deixar a Globo

O destino do programa parece caminhar para uma realidade híbrida, tanto dentro quanto fora dos domínios tradicionais da Globo

Participantes do BBB24 reunidos na sala. Foto: Reprodução/Globoplay
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A transição para o streaming está mudando a cara da televisão, e pondo em xeque o futuro da TV aberta e dos canais a cabo. Afirmar que esses formatos tradicionais serão completamente substituídos, porém, é um contrassenso. As diversas plataformas coexistem, cada uma se adaptando às novas realidades do consumo de conteúdo. E o Big Brother Brasil 24 exemplifica essa evolução, destacando a necessidade de inovação nos formatos de entretenimento. Com sua estreia antecipada e beneficiada pela audiência robusta de uma telenovela em reta final – Terra e Paixão – e, agora, Renascer, com audiência ascendente, a edição atual registra um leve aumento na audiência em comparação ao ano anterior, aproximadamente 20 pontos na Grande São Paulo. 

Mesmo com os números mostrando crescimento, um olhar mais atento ao histórico revela uma queda notável. Isso nos leva a questionar o que realmente define o sucesso hoje em dia. Estamos vendo uma mudança nas regras do jogo, impulsionada pela maneira como o conteúdo circula entre os diferentes meios.

Embora a audiência televisiva do BBB24 tenha caído em comparação às edições anteriores, alcançando a marca de estreia com os números mais baixos da história do reality no Brasil, o programa tem um desempenho extraordinário em plataformas digitais. A Globoplay, plataforma de streaming da Globo, atingiu picos históricos de audiência em janeiro de 2024, ultrapassando seus próprios recordes estabelecidos em fevereiro de 2023, conforme dados apurados pelo Kantar Ibope. A plataforma se posicionou logo atrás da Netflix em termos de visualizações, relegando a Amazon Prime ao terceiro lugar. Um crescimento de 34% em consumo e de 22% em usuários alcançados quando comparado à edição anterior. Além disso, o reality foi o programa mais assistido tanto no ao vivo como no on demand do Globoplay.

Com o impulso proporcionado pelo BBB, as plataformas de streaming, em conjunto, alcançaram uma participação de audiência de 8,5%, superando os canais de TV por assinatura, que ficaram com 7,9%. O índice supera os números de emissoras como Record, SBT e Band, ficando atrás apenas da própria Globo. Notavelmente, mesmo com a redução da audiência na TV aberta, o BBB 24 conseguiu superar a soma da audiência de todos os concorrentes que usam o controle remoto e quase dobrou os números de todas as plataformas de streaming durante o horário de exibição noturna do programa. 

Na internet, o BBB24 conquistou um engajamento impressionante já no seu primeiro mês, registrando 4 milhões de pesquisas no Google e gerando mais de 19 milhões de menções nas redes sociais, um aumento de 42% em comparação com o BBB de 2023. Essa repercussão não passou despercebida pelo portal Gshow, vinculado à Globo, que viu seu número de usuários diários dobrar, literalmente, em relação ao período anterior, com a cobertura do reality show sendo responsável por uma esmagadora maioria de 80% dos acessos ao site.

Os índices destacam a capacidade do programa em capturar a atenção do público e também acendem o radar das marcas para as potenciais oportunidades de marketing e publicidade. O fenômeno consolida a edição como a mais rentável dentre as 24 já realizadas, com seu plano comercial, que abrange 100 episódios, ultrapassando em arrecadação o faturamento anual total de emissoras concorrentes como SBT e RedeTV, evidenciando o poder extraordinário do BBB em gerar receita e influenciar o mercado publicitário.

Com todos esses números, o destino do BBB parece caminhar para uma realidade híbrida, tanto dentro quanto fora dos domínios tradicionais da Globo. Após 24 edições exibidas, o programa dá sinais de desgaste em sua capacidade de se manter como um destaque na televisão aberta, desafiando os produtores a reinventarem sua abordagem. A Globo, antecipando essas mudanças no consumo de mídia, já está posicionando o Globoplay como futura casa do BBB, adaptando-se à era das múltiplas telas. Agora, não basta só “assistir” TV; é preciso engajar o público através de formatos inovadores e conteúdos adaptáveis.

A tendência sugere uma inversão de papéis, com o BBB migrando mais assertivamente para o streaming, enquanto a TV aberta se torna o lar de conteúdos complementares, como análises, comentários e destaques em vídeo que atualmente habitam as plataformas digitais. Essa transformação indica uma reconfiguração do papel da TV aberta, concentrando-se menos em grandes produções e estreias e mais em conteúdos que amplifiquem e enriqueçam a experiência do espectador, oferecendo contextos, discussões e conexões mais íntimas com o público. O ajuste reflete uma adaptação às novas dinâmicas de consumo de mídia, onde a interatividade e a profundidade do conteúdo se tornam tão cruciais quanto o entretenimento em si.

O futuro do entretenimento, moldado pela convergência de tecnologias digitais e pela crescente demanda por conteúdo interativo e personalizado, promete transformar não apenas a maneira como consumimos mídia, mas também os hábitos sociais em torno desse consumo. À medida que as plataformas de streaming e as redes sociais redefinem os parâmetros de engajamento e participação, elas criam novas formas de comunidade e diálogo, transcendendo fronteiras geográficas e culturais. Esse cenário, caracterizado pela democratização do acesso e pela amplificação de vozes, tem o potencial de fomentar uma maior diversidade dentro da esfera do entretenimento. 

No entanto, esse futuro também traz desafios significativos, como a diluição da privacidade, a polarização amplificada e o risco de sobreposição entre realidade e representação. A responsabilidade dos criadores de conteúdo e das plataformas de distribuição se torna fundamental. Uma coisa é certa: o entretenimento como está posto hoje, inclusive o BBB, não deve ter vida longa na TV aberta. Mas deve sair fortalecido e manter sua relevância mesmo para quem assiste do sofá de casa.

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