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Eliminação de Rodriguinho no BBB é uma aula sobre a despolitização da Globo

Abordagens que minimizam ou justificam comportamentos problemáticos comprometem a integridade e a responsabilidade social do veículo de comunicação

Créditos: Reprodução TV Globo
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A eliminação de Rodriguinho do BBB 24 trouxe à tona um debate importante sobre os limites da tolerância e da responsabilidade midiática em programas de grande audiência.

Suas ações, que incluíram comentários dirigidos a Yasmin Brunet relacionados à compulsão alimentar, diálogos carregados de misoginia com outros participantes, uso de expressões xenofóbicas e ameaças diretas à integridade física de Davi lançam luz sobre a postura editorial adotada pela Globo.

O discurso de Tadeu Schmidt, ao minimizar as consequências das atitudes de Rodriguinho e falhar em reconhecer o impacto de suas palavras nas vítimas, suscita questionamentos sobre a complacência da emissora diante de comportamentos inaceitáveis. A proteção aparente aos integrantes do grupo “Camarote”, evidenciada por uma narrativa que tende a suavizar suas falhas, coloca em xeque a responsabilidade social da emissora, sugerindo uma perigosa normalização de discursos e atitudes violentas em um contexto onde deveria prevalecer a reflexão crítica e o repúdio a qualquer forma de preconceito.

A trajetória de Rodriguinho no BBB foi notavelmente marcada por um leque de comportamentos problemáticos que vão desde agressões verbais e posturas misóginas até um evidente desdém pelo programa, sua produção e o público. Suas falas, embora não sempre violentas, transpareciam um menosprezo contínuo pela experiência no reality show, questionando a própria essência da competição e a significância do prêmio em disputa. Ao ser eliminado com uma expressiva rejeição de quase 80% dos votos, fica óbvio que a percepção do público sobre suas ações diverge substancialmente da abordagem adotada por Tadeu Schmidt em seu discurso de despedida.

Ao descrever Rodriguinho como um “paradoxo” e tentar suavizar suas atitudes como parte de um “jeitão” singular — “rabugento, porém divertido; arrogante, mas carismático” —, o apresentador parece minimizar a gravidade das ações do ex-brother. A tentativa de pintar a toxicidade evidente em suas palavras e ações como meros traços de personalidade não só falha em reconhecer o impacto negativo de tais comportamentos, mas também corre o risco de normalizar atitudes que estão longe de serem inofensivas ou aceitáveis em qualquer contexto social.

A escolha do apresentador Tadeu Schmidt em destacar qualidades supostamente positivas de Rodriguinho, em um contexto onde elas não se manifestaram, contribui para uma narrativa que distorce a realidade vivenciada tanto pelos participantes quanto pelo público. Ao comparar a relação tumultuada entre Rodriguinho e Davi a uma interação paternal, onde Rodriguinho supostamente enxergaria Davi como um filho, ignora-se a gravidade das ameaças de violência física, transformando um comportamento agressivo em uma distorcida demonstração de afeto paternal.

O discurso quase fúnebre, que exalta as “qualidades” de Rodriguinho em último adeus na casa, não apenas constrangeu o público, que foi testemunha de suas ações controversas, mas também insinua uma manipulação editorial com o intuito de proteger a imagem do participante e, por extensão, a do próprio programa. A comparação feita entre Rodriguinho e Nanda, sugerindo que ambos compartilham uma “acidez” que seria a fonte de sua graça, é um exemplo dessa distorção. A comparação negligencia a discrepância significativa entre as atitudes de Rodriguinho, repletas de agressões, e qualquer comportamento apresentado por Nanda, minimizando assim a seriedade das ações do pagodeiro.

A estratégia da Globo em incluir subcelebridades no elenco do Big Brother Brasil, embora eficaz em gerar interesse e mídia espontânea, acaba colocando a emissora em uma posição delicada. Esses participantes, muitas vezes em busca de redenção ou reavivamento de suas carreiras, podem trazer consigo um histórico de comportamentos polêmicos ou atitudes que demandam uma gestão cuidadosa de imagem. A “proteção” oferecida a esses participantes, que parece ser uma tentativa de preservar o valor de entretenimento do programa e evitar conflitos legais ou de imagem, tem o efeito colateral de contribuir para a perpetuação de estereótipos nocivos e a alienação do público.

A abordagem de proteção se manifesta não apenas no tratamento diferenciado dado a esses participantes em situações controversas, mas também na maneira como a emissora lida com as críticas que surgem dessas situações. O silêncio da Globo diante das críticas, a falta de transparência nas decisões editoriais dentro do reality e a relutância em admitir equívocos na gestão de conflitos dentro da casa refletem uma postura que prioriza a imagem e a audiência em detrimento da responsabilidade social e ética.

Essa dinâmica cria um ciclo problemático onde a emissora, ao tentar manter o controle narrativo e proteger seus participantes “estrelados”, acaba por alienar parte de seu público, que busca uma representação mais autêntica e responsável. Ignorar os episódios problemáticos envolvendo Rodriguinho no BBB já representa um erro significativo por parte da emissora e da produção do programa ao não abordar de maneira crítica e responsável as atitudes e comportamentos que desafiam normas sociais e éticas. Contudo, o ato de justificar e amenizar tais comportamentos através de discursos desconectados da realidade, que buscam retratar de forma positiva atitudes claramente problemáticas, agrava ainda mais a situação. É um modus operandi que contribui para um cenário mais amplo de despolitização e de desestímulo ao desenvolvimento do senso crítico entre o público.

Ao romantizar ou diminuir a gravidade de atitudes que incluem agressões verbais, misoginia, ou qualquer forma de violência e preconceito, a emissora perpetua a ideia de que tais comportamentos são aceitáveis ou meramente parte do “jogo”, minimizando o impacto real e os danos causados às vítimas e à sociedade como um todo. Isso não apenas desvia a atenção de discussões importantes sobre os valores e as condutas, mas também enfraquece a capacidade do público de questionar e refletir criticamente sobre o que é apresentado a eles.

Em um contexto em que a mídia tem um papel fundamental na formação de opiniões e na promoção de diálogos, abordagens que minimizam ou justificam comportamentos problemáticos comprometem a integridade e a responsabilidade social do veículo de comunicação. Isso ressalta a importância de uma postura mais ética e transparente por parte dos produtores de conteúdo, especialmente em formatos amplamente consumidos como os reality shows, onde a representação e a responsabilização devem andar de mãos dadas para promover uma sociedade mais consciente e crítica.

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