Diálogos da Fé

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Ramadan, um tempo de esperança para os muçulmanos

‘Acredito que neste ano também devamos praticar o nosso Ramadan em casa com as nossas famílias’, escreve Atilla Kuş

Foto: iStock
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O Ramadan é o 9º mês do calendário islâmico e faz parte dos três meses que carregam datas importantes para a tradição islâmica.

Nele, se celebra a memória da primeira revelação do Alcorão ao profeta Muhammad no ano de 610 da era comum. Segundo o Alcorão (2:185), a revelação começou neste mês como um guia para distinguir o bem do mal. Por isso, diz o Alcorão no mesmo versículo, quem (dentro dos muçulmanos) alcançar a este mês, que o passe com jejum, exceto aqueles que estão viagem ou doentes contanto que reponham estes mesmos dias quando for possível depois do Ramadan.

O jejum neste mês é praticado todo dia da alvorada até o pôr-do-sol. Nas condições do Brasil, é um jejum de quase 13 horas sem comer e beber. Porém, esta prática não é um simples ato de ficar sem comer e beber, mas, sim, deve ser uma ferramenta para purificação e evolução espiritual, e isso é somente possível por meio da abstinência daquilo que é mau e pecaminoso em termos da religião islâmica.

Uma outra característica do Ramadan e do jejum praticado nele é a caridade e a cumplicidade com o outro. O ato de não comer e não beber é para entender bem a situação daquele que não tem o que comer todos os dia. Por isso, além do jejum, é importante que aqueles que têm condições financeiras paguem esmola aos necessitados praticando a caridade em uma dimensão econômica. Apesar de nos lembrarmos apenas do aspecto financeiro da caridade, ela também significa cuidado.

O momento em que vivemos é carente de muito cuidado e atenção. Vivemos em um território onde a média diária de mortes causadas por Covid-19 é de 3 mil. Segundo os especialistas, o número pode aumentar ainda mais no mês de abril. Lembro que, no ano passado, estávamos apavorados com o aumento de casos de coronavírus e naquela mesma época falamos neste espaço sobre a ação de caridade durante e depois do Ramadan. Eram, portanto, palavras quase semelhantes a estas que se leem neste bate-papo. Infelizmente, o cenário evoluiu negativamente e por isso parecemos sempre repetir o mesmo assunto.

Como já mencionado, um dos aspectos da caridade – o mais importante – é o de cuidar. Somos todos encarregados de cuidar de nós mesmos, pois, independentemente de qual seja a nossa religião, sabemos que os nossos corpos nos são confiados pela Entidade Suprema, divina e criadora. Cada um chama ela de acordo com o nome que a sua religião dá: Deus, Allah, Brahman ou Orixá. A realidade é que somos encarregados de não trair a confiança em nós depositada.

Da mesma forma que o Ramadan foi o berço de uma esperança que nasceu como o Islam há 1.442 anos, o meu apelo aos meus irmãos de fé é que façamos dele uma nova esperança na conjectura em que vivemos.

É claro que não haverá uma nova revelação corânica, pois, para o Islam, não haverá mais profetas depois do profeta Muhammad.

Porém, a mensagem que ele nos deixou pode e deve ser fonte de esperança não somente para os muçulmanos, mas por meio deles para todos.

Por isso, apelo aos meus irmãos de fé que pratiquemos a caridade da forma que ela é: cuidando de nós e dos nossos próximos, além de pagarmos a esmola àqueles que precisam.

E, neste momento, como sempre repetimos, o cuidado consigo mesmo e com os outros é por meio do isolamento e da prevenção de aglomerações.

Como bem disse Sheikh Muhammad al-Bukai, em sua mensagem de sexta-feira no dia 9 de abril, preservar a vida é essencial e mais importante.

Por esta razão, as mesquitas seguem as orientações das autoridades de saúde. Porém, por ser o Ramadan um momento de celebração comunitária, é possível que esqueçamos da crise que vivenciamos.

Por isso, acredito que neste ano também devamos praticar o nosso Ramadan em casa com as nossas famílias cuidando de nós e dos nossos próximos. Assim, talvez este mês se torne uma esperança.

Aproveito para desejar um feliz e abençoado Ramadan. Ramadan Karîm e saudável.

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