Diálogos da Fé

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Não são as catástrofes que matam, mas a negligência e a desigualdade

Em menos de um mês, fui atingido com notícias de catástrofes e mortes na minha terra natal (Turquia) e no meu país de coração (Brasil)

A Barra do Sahy, em São Sebastião, após a tragédia no litoral norte paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Gostaria de começar esta retomada de expressão das minhas ideias neste espaço com um pedido de desculpas aos leitores e leitoras, pois não queria reiniciar com catástrofes e mortes. Infelizmente, no entanto, o ser humano continua com o seu jeito negligente e desigual.

Em menos de um mês, fui atingido com notícias de catástrofes e mortes na minha terra natal (Turquia) e no meu país de coração (Brasil).

O terremoto que atingiu o sul-sudoeste da Turquia e norte da Síria até agora levou cerca de 50 mil pessoas à morte. Na Turquia, desde 1999, é cobrado o imposto para o combate a catástrofes. Desde então, foram recolhidos exatos 38,2 bilhões de dólares. O dinheiro devia ter sido direcionado ao fortalecimento de prédios e casas para que em um desastre como o terremoto de 6 de fevereiro (magnitude de 7,6 e 7,8) não houvesse mortes e destruições.

Fui uma das pessoas atingidas. Perdi um casal de amigos e ainda tive que encarar o absurdo de ser alvo dos insultos do presidente/ditador da Turquia por ter questionado a ausência do Estado nas primeiras 48 horas do terremoto. O dinheiro que foi recolhido durante os últimos 24 anos não foi direcionado para quem deveria, mas desviado a outros interesses do governo.

A outro catástrofe ocorreu no dia 20 de fevereiro. Chuvas que causaram deslizes e alagamentos destruíram casas e já causaram morte de 65 pessoas no litoral Norte de São Paulo. Infelizmente, como em todas as catástrofes, quem morreu foi o pobre que foi relegado e negligenciado tendo que construir sua casa na encosta da serra.

Em São Sebastião, segundo o prefeito da cidade, houve a tentativa para a construção de habitação para as pessoas que são trabalhadoras e prestadoras de serviços para as classes média e alta numa área segura, em um bairro chamado Maresias, porém, seus habitantes – a maioria provavelmente empregadores das pessoas que viviam na encosta da serra – teriam feito um abaixo assinado para que isso não acontecesse. Isso é mais que um absurdo. No mesmo bairro, jornalistas que reportavam a catástrofe foram agredidos sendo chamados de “comunistas”. É possível perceber que eram “cidadãos do bem”. 

Os mesmos cidadãos do bem que se dizem, na maioria das vezes, “seguidores ferrenhos do cristianismo”, não quiseram ter os seus servidores e empregados morando perto de seus condomínios de luxo, pois isso reduziria os valores de imóveis. É a demonstração de quanto a elite ainda precisa aprender que dependemos um do outro e de quanto não entendem nada sobre a religião que diz seguir. 

Em ambos os casos, da Turquia e do litoral Norte de SP, eu consegui apenas entender que a negligência e a desigualdade são os principais motivos das mortes que ocorrem nessas catástrofes. Sim, eu tenho a crença de que os desastres naturais fazem parte da criação de Deus. Porém, a nossa mente, a dádiva de pensar e agir também fazem parte desta criação para que tomemos as devidas providências e reduzir os danos das catástrofes.

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