Diálogos da Fé

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Evangélicos serão peça-chave em 2024

O que ocorrer nesse segmento implicará fortemente na conjuntura política e balizará os próximos anos de disputa eleitoral

O ex-presidente Lula (PT), durante encontro com evangélicos. Foto: Ricardo Stuckert
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Como sabemos, as eleições presidenciais recentes no Brasil representaram um marco na trajetória política dos evangélicos, um grupo diversificado e multifacetado em termos de crenças e práticas. Tanto em 2018 quanto em 2022, uma expressiva maioria de 69% dos eleitores evangélicos optou por Jair Bolsonaro, segundo as respectivas pesquisas Datafolha de véspera dos segundos turnos. Em especial no caso de 2022, este número reflete não só uma escolha política, mas uma mobilização profunda e estratégica dentro deste segmento. Observamos uma onda de mobilização política, caracterizada por uma combinação de fervor religioso e ativismo político, mirando em estabelecer uma sinergia entre o cristianismo evangélico e a direita política, em especial sua versão mais extremista: o bolsonarismo.

A associação entre a fé evangélica e a política de direita foi fortalecida por discursos que enfatizam valores conservadores, especialmente em questões sociais e morais, ressoando profundamente com a base de fiéis. Embora seja cedo para declarar essa aliança como definitivamente consolidada, é notável a crescente aceitação da ideia de que a fé cristã evangélica é incompatível com os ideais de esquerda.

Com a aproximação das eleições de 2024, será imperativo analisar a evolução da dinâmica política dos evangélicos. Não é exagero dizer que o que ocorrer nesse segmento implicará fortemente na conjuntura política e balizará os próximos anos de disputa eleitoral. Isso porque, ao contrário do período entre 2018 e 2022, Bolsonaro estará fora do poder e sem concorrer pessoalmente às eleições. A coesão do campo bolsonarista, e seu potencial sucesso nas urnas, dependerá significativamente da coordenação dos atores políticos e, crucialmente, da postura dos evangélicos. Resta saber se eles se posicionarão como um bloco unificado anti-esquerda, mantendo um discurso alinhado ao bolsonarismo, ou se estarão mais focados em questões pragmáticas locais, que transcendem a polarização política tradicional.

Do ponto de vista da esquerda, a disputa pelo voto evangélico se torna uma estratégia vital. Se os evangélicos mantiverem o nível de coesão e alinhamento com a direita observado recentemente, o campo político da esquerda enfrentará horizontes eleitorais cada vez mais restritos, e não é exagero dizer que poderá se tornar inviável em eleições majoritárias nacionais. Portanto, entender, engajar e possivelmente reverter essa tendência torna-se um objetivo crucial para os partidos de esquerda que buscam disputar o poder.

Este cenário exige dos partidos de esquerda uma reflexão profunda e uma reavaliação de suas estratégias. A necessidade de dialogar com o segmento evangélico, entendendo suas preocupações e valores, pode ser uma tarefa difícil, dado que há um indiscutível choque de visões de mundo. Mas é uma tarefa necessária, e adiá-la só a torna mais complexa.

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