Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

Diálogos da Fé

Milei seguirá Bolsonaro e buscará apoio de mulheres evangélicas na Argentina?

Para o sociólogo e antropólogo Pablo Séman, o eleitorado evangélico segue dividido nas eleições da Argentina e mulheres forçam rejeição apesar das tentativas de Milei

Javier Milei, o candidato da extrema-direita à Presidência da Argentina. Foto: AFP/Telam-Maximiliano Luna
Apoie Siga-nos no

O sociólogo e antropólogo Pablo Séman segue dialogando com este Observatório sobre o tema das eleições na Argentina. Especializado em religião e cultura popular e professor da Universidade Nacional de São Martin, ele examina nesta conversa a possibilidade do candidato de extrema direita Javier Milei cortejar o eleitorado evangélico – especialmente de mulheres – para fortalecer suas chances de vitória nas eleições de domingo próximo. E se você não tiver lido, aqui está a primeira parte desta conversa.

Observatório Evangélico: O candidato Javier Milei nos lembra Bolsonaro em muitos sentidos. Mas ele não parece ter se aproximado do público evangélico. Ou estamos enganados?

Pablo Federico Semán: Ele tentou bastante, mas o eleitorado evangélico está dividido. Embora eu suspeite que deve haver um percentual um pouco acima da média que o apoia. No entanto, os pastores, especialmente aqueles das denominações mais institucionalizadas e abrangentes, embora não sejam a maioria do mundo evangélico, não estão tão dispostos a apoiá-lo, e muitos pensam que não é algo bom. Além disso, como ele é um candidato que as mulheres rejeitam mais por ser violento do que por ser anti-feminista, é mais difícil conquistar o apoio dele em um mundo evangélico onde a voz das mulheres nesses assuntos é muito importante.

OE: Bolsonaro também começou com alta rejeição entre as mulheres aqui. Ele superou isso com Michelle, sua esposa, e outras mulheres evangélicas como Damares Alves, que foi sua ministra dos direitos humanos. Seria possível para Milei buscar esse tipo de apoio e se apresentar como o candidato que representa essas diretrizes e agenda no campo dos valores?

PFS: Ele teria que pensar nisso, porque obviamente sempre haverá líderes que podem ser tentados por uma proposta desse tipo. No entanto, sei que muitos, e não necessariamente progressistas ou mesmo de centro, seriam a favor dessa proposta, pois a situação em que o novo presidente assumiria é muito complicada. O que é possível é que alguns pastores de setores populares, igrejas muito autônomas, possam se sentir mais tentados, porque acredito que Milei tentará transferir a administração da assistência social dos grupos que atualmente a têm para outros, e é aí que esses pastores poderiam se encaixar. Mas realmente acredito que a grande diferença entre a Argentina e o Brasil é que a posse de Bolsonaro resultou em condições econômicas muito mais estáveis do que as que a Argentina terá no momento em que o novo presidente assumir. Pode haver um cenário muito trágico que seria o seguinte: hiperinflação, fome e necessidades imediatas, e isso faria com que muitos atores, não apenas os evangélicos, se unissem ao governo pela possibilidade de ter comida amanhã.

OE: Em um comício na semana passada, uma das camisas de apoio oferecidas por vendedores dizia: “A vitória na batalha não depende da quantidade das tropas, mas sim da força que vem do céu.” – 1 Macabeus 3:19. Como voce interpreta esse tipo de menção à Bíblia na campanha de Milei?

Sim, todas essas evocações não produzem necessariamente resultados. Essa é uma evocação mística que não necessariamente é voltada principalmente aos evangélicos.


Pablo Séman é sociólogo e antropólogo, especializado em religião e cultura popular. É investigador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina e professor da Universidade Nacional de São Martin.

*Imagem do acervo de Luiza Foltran

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo