Diálogos da Fé

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Bruno e Dom foram mais dois ‘perigos’ que nossa espécie eliminou para continuar a estragar tudo

Como um muçulmano, me considero responsável por tudo que existe no universo criado por Deus. E sei que aqueles que foram massacrados por defenderem os seus irmãos e a natureza serão recebidos com misericórdia

Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
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Aquelas pessoas que me acompanham neste blog devem ter percebido uma mudança em meu discurso. No início, tentei manter um tom mais “neutro” – com a minha propensa e vaidosa objetividade acadêmica. Percebi, porém, ao longo destes três anos, que afirmar a sua posição em relação a muitas coisas que acontecem é, sim, um ato político e apolítico ao mesmo tempo, pois antes de mais nada é meu dever como um ser humano fazer estes posicionamentos. 

Desde o dia 5 de junho, o noticiário foi ocupado com o desaparecimento de duas pessoas: Bruno Pereira, brasileiro dedicado à causa dos direitos de povos indígenas, e Dom Philips, jornalista britânico que estava preparando um livro sobre a questão da Amazônia. Não fui tão delicado para escrever este texto o mais rápido possível por várias razões, entre as quais motivos profissionais. Mas antes tarde do que nunca, cá estou para homenagear aqueles e aquelas que se sacrificaram e sacrificam para ser a voz de quem não a tem. 

Um mês e meio antes de seu desaparecimento, Bruno Pereira havia feito declarações à Folha de S. Paulo. Na entrevista, que ele havia pedido que não fosse publicada, deixou três palavras que devem nos preocupar e manter alertas. “Difícil, cansativo, perigoso”, estas foram as palavras de Bruno, que devem ficar registradas em nossas mentes para que nunca esqueçamos. 

Cada folha de uma árvore conta. Perdemos o nosso oxigênio a cada minuto que se passa. Somos cada vez mais submetidos ao terror do desmatamento e garimpo que resultam em danos irrecuperáveis à ecologia. A natureza está cada vez mais fraca diante de tudo que o ser humano lhe causa. E dentro desta espécie danosa, há os poucos que se dedicam a defender a natureza. Para quem não convém esta atitude, essas pessoas são “perigos” que precisam ser eliminados para que os processos danosos possam continuar “em paz”. 

Bruno e Dom foram mais dois “perigos” que a nossa espécie danosa eliminou para continuar a estragar tudo e, assim, preparar o seu próprio fim. Eles não foram os primeiros, nem serão os últimos. Muitos Chicos, Dorothys, Doms e Brunos serão sacrificados por regimes desumanos que causam a morte de seus irmãos humanos, se é que os consideram dessa forma!

‘Difícil, cansativo, perigoso’, estas foram as palavras de Bruno, que devem ficar registradas em nossas mentes para que nunca esqueçamos

Como um muçulmano, me considero responsável por tudo que existe no universo criado por Deus. E sei que, do ponto de vista religioso, aqueles que foram massacrados por defenderem os seus irmãos humanos e a natureza a nós confiada por Deus são também bem recebidos com misericórdia por Ele na outra vida, pois serão considerados como aqueles que salvaram a humanidade toda como se diz no Alcorão (5:32), enquanto aqueles que matam e destroem serão recebidos como “desviados ordenados (por Satanás) a causar danos e modificações irrecuperáveis à criação de Deus” (Alcorão 4:119) apesar de estarem propensamente convocando o nome d’Ele o tempo todo. 

Quero terminar aqui homenageando não só o Bruno e o Dom, mas todas as pessoas que foram massacradas por defenderem a vida, a natureza e o mundo. Vocês sempre estarão em nossos corações, nossas orações e reflexões. A Resistência – como disse o Bruno para a Folha – seremos nós sempre.

Como um muçulmano, me considero responsável por tudo que existe no universo criado por Deus. E sei que aqueles que foram massacrados por defenderem os seus irmãos e a natureza serão recebidos com misericórdia.

 

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