Diálogos da Fé

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Diálogos da Fé

Até quando a violência tomará conta de nós?

‘Os estados são os legítimos detentores da violência e o que aconteceu no Jacarezinho e no Oriente Médio é a maior evidência disso’

Operação policial deixou cenário sangrento no Jacarezinho. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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O mês de Ramadan, período sagrado para a tradição islâmica, acabou no dia 12 de maio e no dia seguinte o mundo islâmico celebrou a Festa do Desjejum – Eid al-Fitr. Porém, ao menos no meu coração como um muçulmano, essa não foi e não devia ser uma ocasião para celebrar ou festejar algo. Foi o segundo Ramadan que passei em quarentena. Posso dizer que não senti tanto o espírito de comunhão e de convivência que o Ramadan sempre trouxe. Outro motivo de eu não achar esta ocasião festiva é, como muitos devem saber, a violência que está reinando na Palestina e aqui, no Brasil, causou mortes no Jacarezinho. Em ambos os casos, há relatórios que comprovam um apartheid e um abuso de poder. E hoje eu quero conversar com o meu querido leitor sobre isso.

Desde já quero alertar tanto os amigos muçulmanos quanto os amigos judeus que não encontrarão no meu bate-papo de hoje uma militância em favor de um ou outro lado na questão da Palestina. Muito menos o texto vai carregar posicionamentos políticos, pois onde a vida humana é questão todo e qualquer tipo de posição política é e deve ser descartada e jogada no lixo. Aliás, como sempre venho dizendo, a política não causa nada menos do que discórdia nas sociedades, se não sempre, na maioria das vezes. É muito raro encontrarmos ideologias e partidos políticos que de verdade busquem dar ao ser humano o seu verdadeiro valor. Como a profa. Francirosy Campos Barbosa certa vez me disse: esta minha visão também é política. Porém, eu acredito que seja uma visão política bem distante da realidade que se vê nas Câmaras de Deputados, Senados, partidos e organizações. Procuro aquilo que é mais humano possível, mas nunca o achei nas ideologias e nos espaços de política.

 

No dia 6 de maio, fiquei espantado com as notícias que vi na internet. As imagens que acabei tendo que visualizar me causaram horror. A chacina em Jacarezinho deixou 29 mortos. Paredes ensanguentadas me causaram uma reflexão sobre até onde a barbaridade do ser humano pode chegar. Perguntei-me “quando realmente o ser humano será humano?”. O nome da nossa espécie é humano, mas na maioria das vezes estamos muito distantes deste atributo.

Nos mesmos dias acompanhei silenciosamente as notícias sobre o despejo das famílias palestinas do bairro Shaikh Jarrah, em Jerusalém Oriental. Famílias estas que já haviam sido despojadas de seus lares anteriormente. Em uma matéria de podcast apresentada por Lourival Sant’anna no site da CNNBrasil, o jornalista especialista em Oriente Médio – que viveu na região – relatou que o território em que as referidas famílias moravam pertencia a um judeu que não queria mais receber o aluguel do espaço, mas sim a saída de seus inquilinos. Porém, esqueceu-se o fato de que os palestinos também tinham seus terrenos em outras partes da cidade de Jerusalém e que perderam depois da guerra de 1948, não podiam recuperá-lo por causa de uma lei israelense. Aqui vai o link da matéria de BBC News Brasil que explica melhor esta disputa de terreno. O governo de Israel usou a força policial para tirar os palestinos de onde estavam e isso foi um dos gatilhos para que Hamas prometesse ataque caso o governo israelense não parasse estas ações, como relatou o prof. Salem Nasser na Band News.

No dia 6 de maio, a Human Rights Watch publicou um relatório acusando o Israel de exercer crimes de apartheid. O prof. Louis Fishmann, de Brooklyn College, em demasiadas publicações nas redes sociais afirmou a realidade que ocorre na região. Da mesma forma, Norman Finkelstein, um acadêmico judeu proeminente, também acusou o Estado de Israel de praticar apartheid. A reação policial contra as manifestações de palestinos que foram impedidos de entrar na Mesquita al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado da tradição islâmica, comprovam que há um tratamento de “cidadãos de segunda classe” para com os palestinos. Bom, sem mais delongas, desde o dia 10 de maio há um confronto militar entre Israel e Hamas. Bombardeios de Israel já atingiram prédios residenciais e 180 civis – 39 crianças – morreram. Não podemos negligenciar que houve morte de 10 pessoas, até onde pude acompanhar. A justificativa do Hamas é a brutalidade de Israel para com os palestinos e a do Israel é que Hamas usa os civis como “escudos humanos”.

Voltando ao início da nossa conversa para não te cansar mais, querido leitor: precisamos saber que infelizmente os estados são os “legítimos detentores da violência”. Isso é um paradigma infeliz no campo da ciência política e permanece até hoje. O que aconteceu no Jacarezinho e acontece ainda no Oriente Médio é a maior evidência disso. Os estados e grupos armados usam desculpas de “defesa legítima” para justificar a morte de inocentes que nada tem a ver com a violência que existe entre eles. A espécie humana está muito longe de ser humano.

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