Diálogos da Fé

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Diálogos da Fé

As repercussões religiosas dos ataques às escolas

Na era das narrativas, até o espírito cristão está em disputa

Prédio onde funcionam escolas em Monte Mor (SP) sofrem ataques a bomba de adolescente. Foto: Reprodução/EPTV
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Na última quarta feita, dia 5 de abril, o país ficou chocado com mais um episódio de ataque a uma instituição escolar, desta vez em uma creche no município de Blumenau, em Santa Catarina. Infelizmente, temos visto casos como esse se multiplicarem. Foi o segundo ataque no Brasil no período de um mês, descontando as tentativas frustradas por ação das autoridades.

Um evento como esse, que tira vidas indefesas ainda da primeira infância, causa uma comoção pública que poucos acontecimentos poderiam causar.

Sendo pai de duas crianças, fui tomado por uma avalanche de sentimentos. Foi impossível não me imaginar no lugar dos pais das vítimas – e vi muitas manifestações no mesmo sentido. As primeiras reações nas redes sociais e nas conversas que tive ao longo do dia invocavam a pergunta: o que faz uma pessoa agir dessa forma?

A verdade é que não há explicações fáceis para o ato em si, tampouco para o fenômeno, de forma mais abrangente. Certamente, tem a ver com a cultura de ódio que vem aumentando na sociedade nos últimos anos; com as redes sociais que alimentam comportamentos extremistas e facilitam formação e reunião de grupos supremacistas; com a perda de sentido coletivo da contemporaneidade; além, é claro, de questões de saúde mental – e de falta de políticas públicas voltadas à área.

São muitos elementos em jogo, mas ao longo do dia me chamou atenção, vindo de diferentes conversas, com diferentes pessoas e de distintas relações com a fé, a seguinte conclusão: “é falta de Deus no coração”.

Certamente, a profissão de fé não fez com que eventos bárbaros deixassem de ocorrer na história da humanidade. São inúmeros os episódios de guerras e massacres tendo a religião como pano de fundo, nas mais distintas tradições e linhagens religiosas.

No entanto, se é verdade que a religião não foi capaz de impedir a barbárie na história da humanidade, é verdade também que o senso religioso está por traz da forma com que grande parte da sociedade condena a violência bárbara – seja no ponto de vista de uma ética de princípios, seja do ponto de vista de uma ética das consequências que envolvem diferentes concepções de justiça divina.

Quando eventos como esse massacre acontecem, crescem os sentimentos de insegurança, medo e desejo de vingança. Em boa parte das conversas e manifestações virtuais sobre o ocorrido, as pessoas estão pedindo por grades, mais armas, pena de morte e violência contra os agressores. Isso em todos os lugares, inclusive nas igrejas.

Ao mesmo tempo, uma das imagens que mais circulou no dia do desastre foi uma entrevista com um pai de uma das vítimas. Ele dizia: “Algumas pessoas estão desejando muito mal à pessoa que fez isso, mas eu, nos meus valores como cristão, perdoo a vida desse indivíduo”. Na era das narrativas, até o espírito cristão está em disputa.

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