Diálogos da Fé

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A reforma da Previdência fere os ensinamentos espíritas

Allan Kardec defendia a justiça social, não apenas a caridade

Protestos de aposentados em Brasília (Foto: ABr)

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Entre denúncias de corrupção, postagens nas redes sociais que ferem o decoro presidencial – deixando qualquer brasileiro envergonhado – e ameaças a jornalistas e ativistas, o atual presidente entregou, pessoalmente, o texto com a proposta de Reforma da Previdência para o Congresso Nacional, um dos principais pilares de sua campanha presidencial, taokei?

Michel Temer tinha tentando encampar essa reforma, mas amargando baixa popularidade e pouco apoio do Congresso, mesmo distribuindo emendas parlamentares, nem conseguiu pauta-la.

É muito comum observar entre espíritas – em especial os mais ricos – aqueles que adoram fazer caridade para aplacar suas consciências pesadas, mas que são favoráveis às reformas trabalhista e da previdência.

Quando o Livro dos Espíritos foi escrito em pleno século XIX, as indústrias encontravam-se em ascensão – a base, claro, da precarização da mão de obra, do desrespeitos às mulheres, do trabalho infantil e de condições insalubres e degradantes para a classe trabalhadora.

Lançado em 18 de abril de 1857, é o primeiro de uma série de cinco livros da Codificação Espírita, publicados por Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail. A obra sistematiza os princípios da Doutrina Espírita segundo os ensinamentos dos Espíritos Superiores.

Neste livro, entre temas como imortalidade da alma, natureza dos Espíritos e suas relações com os seres humanos, Leis Morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade, Kardec interrogou os espíritos sobre a importância do trabalho e a necessidade do repouso, inclusive na velhice.


Busto de Kardec (Foto: Wikimedia)

Ele queria marcar seu posicionamento contrário à industrialização desenfreada, à crescente concentração de capital e à formação de grandes monopólios.

Certamente seu pensamento sofreu influência de movimentos socialistas que surgiram no século XIX, como o anarquismo e o comunismo, pois tanto o anarquismo quanto o comunismo pautam suas lutas em transformações sociais profundas, não somente mudanças nas relações entre patrões e trabalhadores. Ideias bem próximas do pensamento espirita.

Ainda no Livro dos Espíritos, na questão 685-a, Kardec questiona a espiritualidade sobre trabalho e velhice, e obtêm como resposta: “O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade”.

Dissemos outras vezes que preferimos o termo justiça social à caridade, visto que Allan Kardec, discípulo de Pestalozzi e um educador visionário, tinha um olhar progressista da justiça social.

Se Kardec vivesse nos dias de hoje, em vez de “fora da caridade não há salvação”, teria cunhado a expressão “fora da justiça social não há salvação”, muito mais ampla, mais dialógica e mais próxima da noção cristã de equidade.

Novamente essa reforma vem à tona, como um fantasma que assombra os mais pobres, excluídos e marginalizados. Se aprovada, ela aumentará as desigualdades.

Uma reforma dessa natureza deve acontecer após um referendo popular e ser ampla, geral e irrestrita.

O atual governo quer impor aos trabalhadores brasileiros uma reforma que os obriga a continuar a trabalhar mesmo após ultrapassar o limite das suas forças, o que por si só demonstra um atentado à vida, primeiro direito natural de todos os seres humanos.

O que pode barrar esse acinte é a pressão popular, exigindo que o Congresso rejeite completamente essa proposta e que seu conteúdo sirva tão somente como registro histórico do dia em que um governo atentou contra o direito à vida do povo brasileiro.

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