Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

Diálogos da Fé

A expulsão da rádio espírita não nos silenciará

Por defender o #EleNão fui excluído da programação da emissora Boa Nova

Na Boa Nova, só um lado é censurado
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“Bem-aventurados serão vocês quando os odiarem,

expulsarem e insultarem,

e eliminarem o nome de vocês, como sendo mau, por causa do Filho do homem.

Regozijem-se nesse dia e saltem de alegria,

porque grande é a sua recompensa no céu.

Pois assim os antepassados deles trataram os profetas.”

Antes de mais nada, #EleNão, pois, segundo a diretoria da Fundação Espírita André Luís, FEAL, mantenedora da Rádio Boa Nova, foi esse o motivo da nossa expulsão.

Apoiamos o #EleNão, movimento suprapartidário, inter-religioso e antifascista, pois se fere a nossa existência – e a dos nossos irmãos -, seremos resistência.

Após 12 anos de trabalho voluntário, dedicação semanal, apadrinhamento de campanha, compromisso doutrinário, identificação com a causa e respeito à missão, visão e valores da Fundação Espírita André Luís, FEAL, fomos expulsos e excluídos da programação, por telefone, em decorrência de nossos posicionamentos públicos e cristãos contra a violência, contra o ódio, contra o medo e contra a violação dos direitos humanos.

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Não há no espiritismo, como há em outras comunidades de fé, uma expulsão oficial, excomunhão, perda de direitos litúrgicos, afastamento das atividades religiosas, como também não há gurus, lideranças hierarquizadas e obediência a dogmas e princípios.

Há cinco livros escritos por Allan Kardec, com o apoio de espíritos superiores, que chamamos de pentateuco, espécie de roteiro para quem segue os ensinamentos dos espíritos e acredita que Jesus foi a entidade mais evoluída que reencarnou na Terra.

No caso da rádio, por se tratar de uma instituição religiosa e de direito privado, há uma diretoria e foram eles que decidiram pela expulsão.

Usamos a expressão expulsar por uma questão política (viver é um ato político), pois não há nada mais violento e, portanto, anticristão, que tratar – aqueles que elegeram – como inimigos, quem tem um pensamento diferente e discordante. Não temos dúvidas que o que nos une é muito maior do que o que nos separa.

Segundo o dicionário Aurélio:“Expulsar, verbo transitivo direto: retirar ou pôr para fora, por castigo, violência ou em obediência a alguma regra ou norma. “expulsou os invasores”. Fazer sair à força. Enxotar, escorraçar, afugentar, espantar, correr, afastar, varrer, dispersar, repelir, repulsar, desalojar, despejar, espedir, desterrar, banir, degredar, relegar, tanger, eliciar.”

Nós, LGBT+, desde muito cedo trazemos a marca de algumas rejeições e uma atitude como essa chega a ser mais cruel ainda, pois nos faz reviver todas as expulsões, violências físicas e simbólicas, sensação de não-ajuste, de inadaptabilidade que fomos vítimas.

Essa expulsão é também homofóbica e nos surpreendeu em um momento em que a frágil democracia brasileira sofre fortes ameaças. Eles escolheram lado e não foi o dos excluídos, marginalizados e sem voz.

Vale lembrar que o espiritismo, doutrina fundada na França pelo educador Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec, também foi perseguido e execrado, mesmo se baseando em princípios cristãos e humanitários (Livro dos Médiuns, item 350).

Em um dos episódios marcantes dessa triste perseguição, com a queima de livros espíritas em Barcelona em pleno século XIX, Kardec assegurou que se queimariam os livros, mas não se queimariam os espíritos, muito menos as ideias defendidas pela doutrina espírita.

Será que imaginaram que com essa decisão arbitrária e não-dialógica iriam silenciar as nossas vozes?

Nós que sempre lutamos pelos direitos humanos, que temos um histórico de defesa da democracia, que acreditamos na convivência harmoniosa entre todos os religiosos (e não religiosos), que escolhemos trilhar os caminhos da paz e da justiça social, iríamos nos calar diante da violação dos nossos próprios direitos e liberdade de expressão?

Desde o golpe jurídico-parlamentar-midiático-religioso que retirou a presidenta Dilma Rousselff e que, paralelamente, culminou com a troca de diretoria da FEAL, a nossa permanência na rádio era vista como incerta.

Inúmeros foram os “recados fraternos” solicitando que não falássemos de política. Essa regra só servia, porém, para nós. Outros comunicadores e programas defendiam abertamente posições conservadoras e retrógradas, como a ruptura democrática, a volta dos militares ao poder, a execração pública do PT e dos partidos de esquerda, a criminalização dos movimentos sociais e a propaganda ao candidato-militar representante do ódio, a antítese do pensamento cristão.

Nosso trabalho, a defesa e divulgação dos direitos humanos, tendo como base os princípios espiritas, não é mais uma semente, e está além do programa da rádio. Não estamos sós.

Não tivemos nem tempo de nos despedir dos ouvintes, dos funcionários e de todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que o programa Mutirão – Espiritismo e Direitos Humanos, chegasse a milhares de lares semanalmente.

Aproveitamos para agradecer as centenas de manifestações de apoio, de preocupação, de carinho, de afeto, de solidariedade, que recebemos no decorrer dessa última semana.

Logo voltaremos com novidades: podcast, lives pela nossa página Espiritismo e Direitos Humanos e Youtube.

“E se a força é tua, ela um dia é nossa. Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando: que medo você tem de nós, olha aí”  (Pesadelo, Paulo Cesar Pinheiro).

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