Conjunturando

Indústrias do futuro e o Brasil do futuro

Transformações em curso podem aumentar ainda mais o abismo social, mas também abrir janela histórica para formas mais colaborativas de produção

Uma das expressões da Quarta Revolução Industrial, a impressora 3D pode alterar radicalmente a oferta de bens e serviços
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Tendo acumulado passivos ambientais e sociais, o Brasil precisa repensar urgentemente os caminhos do seu desenvolvimento. A grave crise econômica, política e institucional sinaliza para o fato de que devemos estar bem atentos para os problemas estruturais acumulados. Nesse sentido, o debate plural ganha grande destaque na articulação de políticas públicas.

Entre os desafios a serem enfrentados para termos um crescimento socialmente inclusivo, sustentado e sustentável do ponto de vista ambiental, merece destaque uma revolução produtiva em curso. A Carta 803 (01/09/2017), do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), traz reflexões relevantes sobre o futuro da indústria.

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A intensidade da crise sofrida pela indústria brasileira, entre 2014 e 2016, bem como a fragilidade da sua retomada na primeira metade de 2017, criam complexos desafios para que o setor se prepare para as profundas transformações tecnológicas que começam a redefinir o processo de produção industrial no mundo. Não se pode esperar que a indústria do futuro oferte tempo para a indústria brasileira se restabelecer.

Para o Iedi, “a incorporação no processo industrial de novas tecnologias, como a internet das coisas e inteligência artificial, que vem sendo denominada de Indústria 4.0, abre a possibilidade de integrar diferentes atividades internas à empresa, mas também toda sua cadeia produtiva, dos fornecedores de primeiro grau ao consumidor”. Esse viés tecnológico permitirá a personalização radical da oferta de bens e serviços. De certa maneira, ele deverá permitir a reconcentração de atividades produtivas nos países desenvolvidos.

Quatro áreas devem ganhar projeção no futuro – a da robótica e a de inteligência artificial, a da ciência da saúde humana, a de codificação do dinheiro, e a de big data. Elas se desenvolvem mais rapidamente nos países onde existe uma conexão entre impulso tecnológico e demanda tecnológica puxada. Esses países são aqueles que mais ativamente desenham políticas públicas para acelerar o surgimento da manufatura avançada.

Segundo afirma o Iedi, “além de ser o grande gerador de receitas fiscais para o Estado e de empregos de qualidade, o setor industrial é um destacado polo criador de novas tecnologias, fundamentais não apenas para o aumento da complexidade de produtos e processos no âmbito da indústria, mas também para o desenvolvimento de outros setores”. Estamos atrasados e desorganizados para essa corrida.

Não restam dúvidas de que o processo de desenvolvimento econômico é aplicável a situações de industrialização. De acordo com pesquisas, as diferenças de renda média entre países eram bem baixas antes da primeira revolução industrial, a partir da segunda metade do século XVIII: de um para menos de dois. Após processos diferenciados de industrialização, diferenças de renda média e de produtividade se mostraram claras.

O livro “A quarta revolução industrial”, de Klaus Schwab, editado pela Edipro, em 2016, traz reflexões oportunas. Crescentes automações de atividades e usos da inteligência artificial desafiam os mais diversos campos da vida humana. Schwab, que é fundador do Fórum Econômico Mundial, aponta três dimensões da revolução em curso – velocidade (ritmo exponencial em um mundo multifacetado), amplitude e profundidade (mudanças profundas no “como” fazemos as coisas) e impacto sistêmico (transformações de relações de produção entre e dentro de países). Um mundo mais conectado traz oportunidades e riscos.

Entre os riscos mapeados por Schwab, “os desafios criados pela quarta revolução industrial parecem concentrar-se principalmente no lado da oferta – no mundo do trabalho e da produção”. Os grandes beneficiários desta revolução são os provedores de capital intelectual ou físico, os inovadores e os acionistas.

Cresceu a distância entre a riqueza daqueles que dependem do trabalho e aqueles que possuem capital nos últimos trinta anos. A desilusão entre tantos trabalhadores em relação ao fato de que terão grandes dificuldades de melhorar a vida de seus filhos é parte desse contexto.

Para Schwab, “a ruptura que a quarta revolução industrial causará aos atuais modelos políticos, econômicos e sociais exigirá que os atores capacitados reconheçam que eles são parte de um sistema de poderes distribuídos que requer formas mais colaborativas de interação para que possa prosperar”.

Ainda que se possa considerar como “boa” a força deflacionária do progresso técnico, é preciso olhar para os efeitos distributivos, que tendem a favorecer o capital sobre o trabalho. Tal situação pode muito bem reduzir a demanda doméstica em muitos países.

Os debates sobre as reformas institucionais no Brasil deveriam estar mais atentos a este tipo de reflexão. Afinal, desejamos nos tornar um país efetivamente mais desenvolvido e equitativo? De acordo com os levantamentos da consultoria Ipsos, para 95%, o Brasil está no caminho errado.

*Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espirito Santo (Ifes)

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