Blog do Sócio

O MBL e a tática da madrasta esperta

Com certeza, o MBL não daria a metade do ovo para os mais pobres; daria ao povo apenas a casca

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Era uma vez uma esperta madrasta que possuía dois enteados e um único filho. Os tempos eram muito difíceis, e a fome campeava solta por aquela região, de forma que a refeição principal dos três meninos era apenas dois ovos.

Na hora do almoço, a esperta madrasta, de posse dos dois ovos cozidos, entregava um ovo para cada enteado, depois dizia: “Reparem como eu sou boa pra vocês, meus enteados! Dei um ovo pra cada um, enquanto meu filho ficou sem nada! Agora, cada um de vocês vai dar a metade do ovo para o meu menino”. E as duas ingênuas crianças, muito satisfeitas, embora de tripas vazias, davam metade do precioso alimento para o mimado filhinho da madrasta.

Lembrei imediatamente dessa historinha quando comecei a analisar a estratégia de marketing do MBL. Antes de tudo, eu me pergunto: o MBL está a serviço de quem? Dos inocentes enteados ou do filhinho mimado da madrasta?

Eu poderia responder a questão discorrendo sobre muitas ideias, porém, optei por responder da maneira mais simples, a partir das causas que o MBL apoiou ou vem apoiando. Vamos lá. O MBL apoiou a reforma trabalhista, que, na prática, coloca o trabalhador brasileiro em condição de semiescravidão.

Apoiou o PL 4330 (Lei 13.429/2017) que ampliou a terceirização do trabalho no País, precarizando ainda mais as relações de trabalho. Apoiou e contribuiu decisivamente para a eleição de Jair Bolsonaro, sobre isso não precisa dizer mais nada.

Apoiou a extinção de órgãos essenciais da administração pública federal, processo que vem resultando numa concentração excessiva de poder nas mãos de uns poucos indivíduos, a maioria deles sem nenhuma experiência no serviço público.

O MBL apoia a extinção da Previdência Social, protagonizada pela proposta de reforma da Previdência. Apoia integralmente a agenda neoliberal do Paulo Guedes. Apoia a privatização desenfreada das empresas públicas. Apoia a concessão inescrupulosa de campos de petróleo para empresas estrangeiras.

Apoia a transferência do Coaf para o Ministério da Justiça, situação que deixará o órgão de controle de atividades financeiras nas mãos de ninguém menos que Sérgio Moro, com o evidente propósito de conter a atuação do órgão, que contribuiu decisivamente para o avanço das investigações contra Flávio Bolsonaro.

 

Mas o pior de tudo é que o MBL finge. Isso é parte de sua estratégia de agradar o povo, como fazia a esperta madrasta para com seus enteados. O MBL finge que apoia a nova política, mas seus membros são filiados a partidos vindos de priscas eras, tais como PFL (DEM), PSDB, PP (sigla do Maluf), PSC (histórico aliado de Fernando Collor). Partidos reconhecidamente tradicionais e inegavelmente envolvidos em atos de corrupção.

Finge que está a favor das investigações contra Flávio Bolsonaro, defendendo que é contra práticas que redundem na apropriação de recursos do erário, mas, em letras garrafais, ressalva que “não acredita que seja o caso de Flávio Bolsonaro”. Ou seja, o MBL afirma que o filhinho do papai é inocente, mesmo diante dos fatos graves revelados pela investigação.

O MBL finge ainda que luta contra a corrupção, defendendo cortes das verbas de gabinete dos deputados. O MBL sabe muito bem que a verba de gabinete é apenas a ponta do iceberg. O MBL sabe também que a retirada da verba de gabinete não vai impedir a negociata, a venda de votos para lobistas, banqueiros, mineradoras, empreiteiros, petroleiras, pecuaristas, destruidores de florestas, carniceiros, milícias, enfim, essas figuras sempre ávidas por saquear as riquezas do País.

Diante desse histórico, é forçoso concluir que, perto do MBL, aquela madrasta da historinha é, na verdade, uma santa. Com certeza, o MBL não daria a metade do ovo para os mais pobres. O MBL daria ao povo apenas a casca.

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