Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Wisnik: ‘O tempo da pandemia coincide com o tempo da insensatez negacionista’

Músico e ensaísta lança álbum de inéditas, com o desejo de transmitir amor pelas canções em meio à ‘exortação à violência’

José Miguel Wisnik. Foto: Bob Wolfenson
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José Miguel Wisnik apresenta o álbum chamado Vão (Selo Circus), com 11 faixas. Um trabalho meticuloso de inéditas produzido em meio ao inquieto período, mas focado em conversar com um novo tempo, sem perder o tom crítico.

“Espero transmitir uma paixão de vida, que é o amor pelas canções”, diz o músico e ensaísta. Uma canção lançada por Wisnik em 2020, A Terra Plana, já dialogava com um período diferente. “Não se trata da Terra chata, mas da Terra que plana no meio do nada”, explica.

“Durante a pandemia, senti que o mundo não era mais aquele, que expôs a nossa fragilidade em escala planetária, que nos jogou no isolamento, mas também numa espécie de novo sentimento de tudo”, afirma.  “O tempo da pandemia coincide com o tempo da insensatez negacionista, da mentira ostensiva e da exortação à violência assombrando o mundo e, no Brasil, instaladas no poder”.

As faixas   

O disco, produzido por Alê Siqueira, abre com O Jequitibá (que fica ali perto do vão do Masp), parceria com Carlos Rennó e participação da cantora Ná Ozzetti. Já Chorou e Riu (só do Wisnik), com participação de Mônica Salmaso, fala com perplexidade do “vão do horror” hoje – destaque nessa música para João Camarero no violão, que ainda grava a última faixa do disco.

Em Roma (parceria com Marina Wisnik, que canta na faixa), a cidade antiga como inspiração. Na quarta faixa de amor ardente, Eu disse Sim (Wisnik e Rennó), extraído a partir do monólogo de Molly Bloom, personagem de James Joyce.

Na sequência, Estranha Religião (com Guilherme Wisnik), que “é uma reflexão sobre o mundo da mercadoria em que estamos mergulhados, contendo um contracanto com a voz e o testemunho da cantora indígena Zahy Guajajara”, nas palavras do próprio autor do disco.

A sexta faixa é Iara (só do Wisnik), feita para a filha, com nova participação na voz de Marina Wisnik. Em O Chamado e a Chama (com Paulo Neves), os versos: O poeta interpreta/ O músico intervém/ A poesia é um chamado/ A música é uma chama”.

Segundo Wisnik, a oitava faixa, Sereia (com Arnaldo Antunes), “é uma canção sobre atravessar por dentro uma doença mortal. Foi escrita antes da pandemia, mas ganhou um novo sentido depois dela.”

O disco segue com Deixa Eu Ir, letra poética em parceria com o também acadêmico Luiz Tatit. Em Avesso Vão (parceria com Marina Wisnik, que participa da gravação), novas possibilidades do termo “vão”. Por fim, o trabalho se encerra com uma releitura de Terra Estrangeira, composição só de Wisnik e tema do filme homônimo, com voz de Celso Sim.

“Espero que as pessoas escutem o disco inteiro, sentindo os recados que passam de cada música para a outra”, diz José Miguel Wisnik. “Sei bem que esse não é o modo dominante de se escutar música hoje. Talvez esse desejo seja vão. Mas eu ainda sou da era do disco, e ainda sinto canções como uma onda que nos leva para uma coisa maior.”

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