Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Sem música de protesto, show de Chico Buarque é para distensionar

Mônica Salmaso tem participação sublime; turnê segue agora para Lisboa e Salvador

Foto: Divulgação
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No entorno do teatro, na zona sul da capital paulista, vans e ônibus de turismo disputam com carros, no início da noite, uma vaga para estacionar. São os últimos dias de temporada na cidade do show Que Tal um Samba?, de Chico Buarque com participação de Mônica Salmaso – a passagem por São Paulo termina exatamente neste sábado 8, depois de mais de um mês de apresentações.

Para um público majoritariamente de meia idade, Mônica Salmaso abre o espetáculo com meia dúzia de cantigas e canções distintas de Chico, com destaque para uma emocionada e impecável interpretação de Beatriz (de Chico e Edu Lobo) acompanhada apenas do piano de João Rebouças.

Chico entra e canta algumas canções com a Mônica, passando pelo seu cancioneiro do Brasil profundo e cotidiano. Aqui, já se vê como o duo funciona: a cantora de técnica impecável e comprometida ao lado de um Chico mais solto tamanha a “sombra vocal” que o acompanha.

Chico segue cantando sozinho ao violão, com algumas intromissões da banda – composta ainda por Luiz Claudio Ramos (direção musical, violão e guitarra), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria), Chico Batera (percussão), Bia Paes Leme (teclados) e Marcelo Bernardes (sopros). 

Músicas do repertório prosseguem com menções ao amor – como Mil Perdões (foto da Gal Costa aparece ao fundo, numa homenagem à intérprete da canção falecida ano passado), Samba do Grande Amor, Todo o Sentimento (com Cristóvão Bastos) e ao lado (forte) cronista do compositor, como O Meu Guri e As Caravanas – o show não se detém aos clássicos de Chico, mas um passeio em canções mais afetuosas da obra de seu autor.   

Encerra-se o bloco com a recém-lançada Que Tal um Samba?, com Mônica Salmaso de volta ao palco. O bis abre com homenagem à irmã falecida, Miúcha, com a música Maninha.

Nessa hora o público está de pé e a frente do palco já está invadida por fãs. Encerra-se com Noite dos Mascarados e João e Maria (composição de Chico com Sivuca) com o público cantando junto os dois clássicos. 

Durante o show, Chico critica a fake news com manipulação grotesca de um vídeo seu de que compraria música – algo tão inacreditável quanto absurdo da máquina que se tornou a internet em ferir reputações. 

O repertório não conta com as músicas de protestos clássicas, como Apesar de Você, Cálice (com Gilberto Gil), Meu Caro Amigo (com Francis Hime), Jorge Maravilha, Roda Viva e Vai Passar

Para parte do público que fez o “L” durante as poucas vezes em que a dupla esboçou em algumas canções o momento político – mais no bloco final do show – e até foi com a toalha do Lula amarrada ao pescoço, ficou o gostinho de que faltou uma mensagem mais contundente aos derrotados nas eleições. No fechamento da cortina, restou aos presentes entoar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”.

É uma apresentação de cerca de 2 horas mais para esquecer o passado tenebroso recente, aliviar as tensões e se animar com o presente. Fotos de fotógrafos renomados no cenário ao fundo retratam a cada canção um Brasil diferente, mas sem rancor.

A turnê de Chico Buarque e Mônica Salmaso, iniciada em setembro do ano passado (depois de Chico ficar cinco anos sem excursão musical), segue agora para Lisboa e Salvador. O compositor continua sua caravana de simbolismos, mesmo não fazendo o óbvio “L”. 

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