Russo Passapusso: ‘O carnaval será o processo de reconstrução cultural’

Russo Passapusso trabalhava numa loja de discos em Salvador (BA) quando teve, pela primeira vez, contato com o álbum Ossos do Ofício (1975) de Antonio Carlos e Jocafi. Ficou vidrado. Então, passou a ouvir outros trabalhos da dupla.

Há cinco anos, após lançar o seu primeiro álbum, Paraíso da Miragem (2014), conheceu os dois pessoalmente em um programa de TV. A partir do encontro surgiram as composições do disco Alto da Maravilha (Natura Musical e Máquina de Louco), disponível nas plataformas de música com 12 faixas inéditas de composições do próprio Russo Passapusso, de Antonio Carlos e Jocafi.

Diáspora 

O trabalho une o afrofunk e o afrobeat característico da obra de Antonio Carlos e Jocafi com o afro-samba-reggae e o sound system potente de Russo Passapusso.

“A fusão é uma característica da música brasileira e muito forte na Bahia, pela relação diaspórica com as transformações que chegam à capital baiana, na Ilha de Itaparica, com o samba-reggae. Sempre tem uma roupagem que se coloca dentro disso. A música fica em mutação constante”, descreve. “Fui impactado quando cheguei do interior (Russo nasceu em Feira de Santana) com essa possibilidade de misturar tudo. No sertão, a gente ouvia o violão, a embolada, o forró. Aqui (Salvador), forró com rock, o baião com reggae, com ragga, os derivados se multiplicaram. Trata-se desse canal imenso do começo de Brasil – essas coisas todas que envolvem a diáspora”.

O cantor e compositor lembra que é característico de Antonio Carlos e Jocafi ouvir todos os tipos de som e trabalharem com variadas temáticas. “Tudo isso veio com as influências da música urbana de Salvador”, diz. “O encaixe foi perfeito. Por isso que me apaixonei por eles”. 

Por meio da banda BaianaSystem, Russo Passapusso é também muito relacionado ao carnaval da capital baiana. “O carnaval será o processo de reconstrução cultural, contato com as pessoas”, acredita. “É a chance de ocupar de forma diferente agora, sem a repetição incessante. Levantar temas que a gente acha relevante e que pense no coletivo dessa vez”. 

Há dois aspectos ligados ao que Russo chama de reconstrução do carnaval. O primeiro é a folia livre da Covid-19. A outra é o momento político novo que o País viverá a partir do início do ano que vem.

“A gente continua a montar esse quebra-cabeça de união, de se entender. Vejo como processo de reconstrução pela Bahia. Estou num processo de felicidade. Pela vitória que a gente teve numa concorrência desleal”, afirma. “Quando você vence uma concorrência desleal, a fé tem um porquê. É um processo de esperança mesmo. Temos confiança que vamos fazer isso. Humanizar todo o processo para construir um futuro melhor”. 

O álbum Alto da Maravilha tem a participação de Bule Bule, Karina Buhr, Gilberto Gil (cantam), Djalma Corrêa (toca percussão), Angela Lopo e Tita Alves (vocais), Ubiratan Marques (teclado e arranjos), entre outros músicos. A produção do disco é de Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins. 

Assista a entrevista: