Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Rapper Xis: ‘Milhares de vidas foram salvas pela cultura hip hop’

Artista lança novo álbum, revisita a poesia das ruas e exalta o legado do movimento do qual faz parte

Foto: @sagazz.shz/Divulgação
Apoie Siga-nos no

Marcelo Santos, o rapper Xis, acaba de lançar seu quarto álbum solo e, por uma provocação de André Abujamra, que o ajudou a produzir o disco, revive a poesia das ruas.

“A provocação foi de revisita mesmo, na caneta, de fazer um trabalho consistente que tivesse o objetivo de terminar um álbum solo”, diz. “Aí ele fez essa provocação de revisitar as rimas das quebradas que frequento.”

Essa troca de ideias com Abujamra ocorreu em 2016, e Xis não apresentava um álbum novo desde 2002. Em 2020, em meio à pandemia, chegou a lançar um disco chamado Arquivo, uma coletânea de inéditas – como define –, reunindo músicas que ele havia feito ao longo da carreira.

“Mas nesse (novo) trabalho realmente eu revisitei a poesia, com o objetivo de fazer um álbum sólido, não um catado de canções que estavam nos meus HDs”, afirma.

O novo álbum, de dez faixas e de nome Invisível Azul, tem a participação de KL Jay, Will Bone, Ice Dee, o rapper angolano Lukeny Bamba Fortunato, Vinicius Chagas (saxofonista), entre outros. Como sempre ocorre em seus trabalhos, Xis insere suas influências nas canções, como a MPB, o jazz, o funk, o blues, os ritmos afros e a música eletrônica.

“As pessoas me perguntam sobre voltar para o rap, mas eu sempre estive no rap, fazendo programa no rádio, na TV, com curadoria, produção”, afirma.

Xis não tinha nem um ano de idade quando oficialmente o hip hop surgiu no Bronx, em Nova York. Cerca de dez anos depois, chegou ao Brasil com força, mas no fim dos anos 1980 é que explodiu para valer no País – e Xis foi um participante ativo dessa geração.

“As pessoas acham que os quatro elementos nasceram juntos (break, grafite, DJ e rap). Mas eles nascem separados e no final da década de 70 e começo dos 80 vão se aglutinando. Eu tive a oportunidade de acompanhar isso”, lembra.

Xis cita os primeiros do hip hop que viu, a exemplo do rapper Pepeu, MC Mike, Ndee Naldinho, Black Juniors, entre outros.

“A questão racial estava muito aflorada para minha geração, quando comecei a empunhar o microfone”, diz. “Isso por causa do sucesso do disco do Public Enemy, o It takes a Nation of Millions to Hold Us Back, a música My Philosophy, do Boogie Down Productions. Essas músicas foram importantes e fizeram a cabeça de uma geração. O lançamento do (disco) Cultura de Rua (1988) também.”

“Me vejo como uma peça importante nesse jogo. O sucesso de Us Mano e as Mina (lançada em 1999 por Xis e que se tornou um sucesso) fez realmente com que a cultura hip hop, de certa forma, chegasse ao Brasil todo.”

Ele se lembra também de que na virada do século o rap começou a ser mais aceito, o que favoreceu sua disseminação.

“São milhares de vidas salvas pela cultura hip hop. Milhares de pessoas que se apaixonaram pela dança, se apaixonaram pela literatura, pela poesia, pelas artes plásticas, pela música através da cultura hip hop. Eu fui salvo pela cultura hip hop.”

Xis avalia que a cultura hip hop ainda é muito nova e que o movimento está escrevendo sua história.

“As pessoas esquecem que a cultura salva. Na periferia, quem dialoga com a molecada é a cultura hip hop, é o samba, é o funk. Eu acredito que o nosso legado ainda está sendo feito”, prosseguiu. “Eu acredito que com gerenciamento cultural a gente pode avançar ainda mais.”

Assista à entrevista do rapper Xis a CartaCapital na íntegra:

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo