Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Projeto celebra em álbum, filme e exposição benzedeira de 108 anos

Registro em diversas linguagens artísticas da centenária Vó Francisca mantém a memória da prática no Mato Grosso

Foto: Henrique Santian
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A fé e a tradição das benzedeiras são conhecidas no Pantanal e regiões próximas. Em Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, a mais célebre delas chama-se Francisca Correa da Costa, a Vó Francisca, de 108 anos.

Nascida em um quilombo, depois da extinção do local ela se estabeleceu no perímetro urbano de Chapada dos Guimarães. Vó Francisca é mãe de 12 filhos. Tornou-se parteira ainda criança. Isso a fez ser reconhecida na região e procurada por décadas para bênçãos, cura pela fé e uso de plantas medicinais do cerrado que conhecia. Nunca cobrou pelas consultas.

O fotógrafo, documentarista e produtor audiovisual Henrique Santian resolveu homenagear em vida a centenária benzedeira com projeto que envolve álbum musical, documentário, galeria fotográfica virtual e cartazes de rua.

“O projeto nasceu de um afeto, de uma amizade. Algo que foi se construindo”, conta. “Até que as amigas próximas de Vó Francisca começaram a morrer. Certo dia, na casa dela, ela começou a pedir registro para deixar sua fala à posteridade”.

O produtor audiovisual tem larga experiência em trabalho com comunidades quilombola e indígena e sabe que, acima de tudo, é preciso ter respeito aos costumes e ritos no relacionamento interpessoal com esses grupos.

Assim, foram sete anos para concluir o registro do dia a dia e depoimentos da benzedeira em sua casa. Henrique Santian nasceu em Sorriso (MT), mas mora na Chapada dos Guimarães.

Altar

“Ela tem um altar na casa dela, mas não segue nenhuma religião específica”, explica. O local sagrado reúne imagens de diferentes crenças. “A religião que ela segue é o amor e a fé”, resume.

Vó Francisca ficou cega há cerca de quatro anos e deixou de atuar como benzedeira, embora algumas pessoas ainda a procurem. Além disso, a pandemia a deixou ainda mais isolada.

O altar de vó Francisca. Foto: Henrique Santian

O documentário será desdobrado em um longa-metragem e um curta-metragem – este último Henrique pretende rodar festivais e será centrado na vida dela.

O filme mostra a rotina e depoimentos da Vó Francisca em casa, entremeados com performances de atores, com músicas criadas e recolhidas para cada cena performática, voltadas ao universo da benzedeira, as influências afro, perspectivas sensoriais e citações a ela.

Já o álbum é de músicas inéditas, feitas por diversos músicos para homenagear a benzedeira. A qualidade das canções valoriza o projeto. O disco tem produção do músico Paulo Monarco, que também auxiliou Henrique Santian na produção da trilha sonora do filme.

A galeria fotográfica virtual conta com mais de 30 imagens de Santian. A curadoria é de Oswaldo de Carvalho. Cartazes que foram colados em mais de 150 pontos das ruas da capital Cuiabá e em Chapada dos Guimarães referenciando Vó Francisca complementam o projeto.

O projeto, que tem o nome de A Fé de Francisca, foi viabilizado pela Lei Aldir Blanc, teve pré-apresentação em janeiro, mas deverá ser lançado oficialmente ainda neste ano, se a pandemia permitir, com a presença da Vó Francisca. No site é possível conhecer esse rico trabalho.

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