Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Por que o samba de bumbo paulista está prestes a se tornar patrimônio imaterial do Brasil

O Conselho Consultivo do Iphan pode aprovar na quinta-feira 9 a instituição do título

Foto: Mário de Andrade
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Já dura mais de uma década o trabalho para reconhecer o samba genuinamente paulista como patrimônio imaterial do Brasil. O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pode aprovar na quinta-feira 9 a instituição do título à tradição tipicamente de São Paulo – o assunto consta da pauta da reunião.

O registro tem o nome de samba de bumbo paulista e abarca designações diversas, como samba rural, samba caipira, samba caiçara, samba campineiro, samba de Pirapora, samba-lenço, entre outras.

O bumbo foi o elemento unificador por estar presente nessas modalidades de samba do estado. O dossiê do samba de bumbo paulista, a que CartaCapital teve acesso, detalha a participação do instrumento percussivo na tradição, uma espécie de símbolo do movimento paulista.

Os seus dois principais congêneres no País, o samba de roda do Recôncavo Baiano e as matrizes do samba no Rio de Janeiro – partido-alto, samba de terreiro e samba-enredo -, já detêm o título de patrimônio imaterial brasileiro desde 2004 e 2007, respectivamente.

O movimento forçado de negros escravizados e descendentes nos séculos XVIII e XIX ao centro-oeste de São Paulo para trabalhar nas plantações de café impactou as práticas socioculturais na região.

Uma das hipóteses é que a fusão do samba de roda estabelecido no Nordeste e do jongo, já comum nas zonas cafeeiras de São Paulo e Rio de Janeiro, originou o samba tipicamente local.

A festa do Senhor Bom Jesus, em Pirapora, seria o lugar de encontro anual de devotos do santo e praticantes do samba de bumbo, provenientes de cidades interioranas com diferentes sotaques da manifestação, como Piracicaba e Campinas.

Embora o encontro em Pirapora já fosse antigo, foi somente em 1937 que ele recebeu descrições detalhadas de sua realização. Uma delas, de Mário de Andrade, tornou-se documento referência do samba paulista e um dos escritos mais relevantes da história da cultura brasileira. Em seu texto, o folclorista faz uma rara exposição etnográfica e fotográfica daquele acontecimento.

Mas o dossiê não se baseia apenas nos escritos de Mário de Andrade e menciona visões de outros estudiosos. Houve também visitas a diversos locais de realização do samba de bumbo, transpostos no documento em exemplificações e depoimentos de mestres, praticantes e descendentes de criadores de comunidades de samba do bumbo nas suas mais diversas designações ao longo da história.

Originário do interior paulista, foi a partir da década de 1950, com o início da migração à capital, que o samba de bumbo se estabeleceu na cidade de São Paulo, influenciando o samba urbano paulistano.

O documento relata que entre as décadas de 1970 e 2000, houve um adormecimento dos bumbos paulistas de maneira geral, retomando as atividades de forma mais intensa neste século. Segundo o dossiê, o reconhecimento do samba de bumbo paulista é fundamental para construir um plano de salvaguarda do patrimônio e fortalecimento da prática.

A pesquisa historiográfica, etnográfica e etnomusicológica para o dossiê foi feita pelo Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP), de São José dos Campos. Mas houve também um grande envolvimento de pesquisadores na área, como Henry Durante, que mantém há mais de uma década o projeto Acervo das Tradições.

O Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais (FCPT), formado por grupos ligados ao samba de bumbo paulista e à sua preservação, foi a entidade a propor o registro ao Iphan.

Compõem o Fórum: Teatro Popular Solano Trindade (Embu das Artes), Galo Preto, Grito da Noite, Samba do Cururuquara – Grupo 13 de Maio, Samba de Bumbo Rural Vovô da Serra do Japi, Piragalo, Samba do Pé Vermêio, Samba de Bumbo de Dandara, Bloco Abayomi, Berro da Noite do Sexo Forte, Galo Garnisé, Esquenta do Sambão, Briga de Galo (todos de Santana de Parnaíba), Grupo de Teatro e Danças Populares Urucungos, Puítas e Quijengues, Movimento Cultural Nhô Arruda, Samba de Bumbo Nestão Estevam (Campinas), Samba Lenço de Mauá, Samba de Bumbo de Itu, Samba Caipira Filhos do município de Quadra, Samba de Roda da Dona Aurora (Vinhedo), Samba de Roda de Pirapora, Samba de Lenço de Piracicaba, Kolombolo Diá Piratininga e Cordão Sucatas Ambulantes (ambos de São Paulo).

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