Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Pesquisador musical vê cada vez menos espaço para a sensibilização da arte

Para Rodrigo Faour, padronização e superexposição nas redes são lógicas perversas na cena atual

Foto: Freepik
Apoie Siga-nos no

Rodrigo Faour avalia que letras e melodias simplistas dominam a música atual. Não que antes não houvesse isso, mas pelo menos circulavam também canções com harmonia, melodia, poesia e arranjos mais elaborados, segundo ele.

“Sempre houve essa música mais fácil, mais minimalista, repetitiva. E o povo consumia”, diz. “Mas tinha também espaço para outros nichos de mercado. Era menor, mas você tinha espaço em alguma rádio, em alguma TV, as pessoas vendiam disco. Hoje, é muito difícil.”

O período exato em que o mercado partiu para a massificação pesada, com músicas de assimilação rápida e lucro mais fácil, foi em meados dos anos 1980.

Faour lembra que produtores musicais daquela época e de antes tinham “tesão” de investir em um artista que valorizava o seu cast. “Isso foi até uma estratégia das gravadoras”, lembra.

Rodrigo Faour tem mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, é autor de várias biografias e publicou uma obra magnífica em dois volumes da História da Música Popular Brasileira: Sem Preconceitos.

“A lógica do mercado contemporâneo talvez excluiria Chico Buarque, se ele começasse agora”, arrisca. “A gente tem hoje uma padronização. Quem faz sucesso tem de ser meio parecido. Antes, havia as gravadoras que ditavam os modismos. Hoje, as gravadoras não saíram de cena, mas existe o escravismo dos algoritmos. A lógica do mercado é muito perversa para qualquer artista que faça uma música mais conceitual.”

Para o estudioso, o sucesso atualmente tem a ver com a superexposição do artista nas redes sociais, com a necessidade de fazer altos investimentos para que os algoritmos lhe deem visibilidade na internet e impulsionem seus trabalhos nas plataformas de música. A prática é mais difícil quando a canção está fora do padrão de consumo.

“Dez anos atrás, você poderia furar uma bolha e se lançar como artista”, diz ele, acrescentando que era mais fácil obter visualização espontânea em plataformas como YouTube.

“Mas todo mundo que faz sucesso de cinco anos para cá, pode ter certeza de que tem muito dinheiro envolvido, fazendo uma música alinhada com os modismos do mercado”, prossegue. “O fato é que o espaço da sensibilização da arte tem ficado menor.”

Segundo ele, portanto, aquela música que provoca mais estímulos, sensibilidade, atenção e reflexão está se esvaindo.

Faour lembra que antigamente um hit chegava a permanecer um ano nas paradas de sucesso. Hoje, passa um mês no ranking.

Segundo ele, o mercado virou uma fábrica de hits de palavras e termos usados nas redes sociais, um parecido com o outro. Os artistas também surgem e somem com a mesma facilidade com que suas músicas sobem e descem nas listas das mais tocadas.

“Tem certos gêneros que, quando tocam suas músicas, parece que se está ouvindo a mesma coisa durante horas.”

Rodrigo Faour afirma ainda se incomodar com o fato de o mercado não garantir mais acesso aos nichos musicais, como a MPB e o samba de raiz, quando a produção musical brasileira de qualidade nesses segmentos continua. Sobre o futuro, ainda crê que o esgotamento de fórmulas de sucesso leve a música para outro caminho – melhor, se possível.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo