Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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‘Os algoritmos são o novo jabá’, diz Tulipa Ruiz sobre fazer música em tempos de redes sociais

Cantora e compositora lança mais um pulsante álbum, o Habilidades Extraordinárias, e firma-se como uma das melhores de sua geração

Foto: Nino Andres Biasizzo/Divulgação
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O título do quinto álbum de Tulipa Ruiz surgiu em 2019, quando ela e o irmão, Gustavo Ruiz, foram tirar o visto na embaixada americana para tocar no Lincoln Center, em Nova York. Em meio a entrega da papelada ao departamento de imigração, foi questionada se tinha habilidades extraordinárias.

Sem entender a pergunta, respondeu que “não”. O irmão, “mais ligeiro”, disse: “A gente ganhou um Grammy Latino”. Isso foi a senha para comprovar que tinham excelência no que faziam para ter permissão de entrada nos Estados Unidos. O Grammy em questão foi ganho com o disco Dancê (2015).

Habilidades Extraordinárias então virou o nome de mais um álbum da cantora e compositora, com a produção do irmão, que também toca guitarra e compôs com ela nove das 11 faixas do novo trabalho. 

“Quando a gente sai de nosso país, a gente fica respondendo o tempo todo nas entrevistas e contando para as pessoas o que está acontecendo aqui. Isso é uma responsabilidade muito grande. Somos embaixadores de nossa cultura”, diz Tulipa. “E o fato de ser uma artista independente, de ganhar um Grammy, onde as cartas são dadas pela indústria, também é uma vitória coletiva”.

Com o ótimo novo álbum, sonoro e pulsante, a artista se firma de vez como uma das melhores de sua geração. “Com a pandemia e tudo isso que tem acontecido, essa distopia toda que a gente tem vivido, Habilidades Extraordinárias acabou virando outra coisa”, ressalta Tulipa, que adiou a gravação do quinto álbum – de 2019 para agora – por conta do momento “apocalíptico”.

O novo trabalho conta como base de gravação um power trio que, além de Gustavo na guitarra, tem Gabriel Mayall no baixo e Samuel Fraga na bateria. Há ainda algumas participações especiais, como João Donato em uma faixa no piano e do pai, Luiz Chagas, que tocou na banda de Itamar Assumpção.

A captação foi feita no formato analógico, na fita, em vez do digital, pelo computador: “Isso determinou muito a sonoridade do disco”. O sistema antigo permitiu manter o que ela chamou de “temperatura” da hora da gravação. 

“Nas letras, não tive como fugir dos atravessamentos todos que têm acontecido. A saudade também está presente no som”, diz. “A gente estava com saudade do encontro [por conta da pandemia]. A gente já vinha do momento da cena já sucateada antes da pandemia, com trabalhadores e trabalhadoras das artes já muito atacados”. 

A cantora começou a carreira com a indústria em transição na indústria fonográfica. “É um momento complicado. As pessoas escutam música de um jeito diferente”, comenta. “Hoje em dia, o algoritmo é o novo jabá [antes se pagava às rádios para tocar as músicas de um artistas]. Se você não paga o impulsionamento sua música não vai aparecer”. 

Assista a entrevista de Tulipa Ruiz a CartaCapital na íntegra:

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