Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Novo livro detalha o espaço geográfico ocupado historicamente pelo rock brasileiro

Obra percorre todas as variáveis do gênero e sua dinâmica, ressaltando um universo bem maior que o conhecido

Foto: Freepik
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De Celly Campelo até os espaços independentes dedicados ao rock, o gênero fez um percurso marcado pelo ingresso de elementos musicais brasileiros, apelo comercial, circuito underground e discussões sobre transgressão e conservadorismo.

Roberto Marques Neto, geógrafo com pós-doutorado, professor da UFJF e observador atento do rock no espaço geográfico, lançou recentemente o livro Geografia do Rock no Brasil (editora CRV, 198 páginas), no qual explora a expansão, as aderências à burguesia, ao capitalismo e ao proletariado e a falsa ideia de neutralidade do gênero.

É um trabalho para entender o universo do rock além da Jovem Guarda e do rock oitentista. O autor cita Os Mutantes de Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, formado no seio da Tropicália, como fundamental na aproximação das matrizes do gênero, fundindo com elementos da música brasileira.

Nesse mesmo período (segunda metade dos anos 1960), o psicodélico, original e ousado Serguei inauguraria o rock alternativo, categoria que marcou a história do gênero no País.

Das lendárias Made in Brazil (paulista, fundado por Celso Velcchione, que faleceu dias atrás) e Dorsal Atlântica (carioca), ainda ativas, a formação do rock rural dos anos 1970, com aproximação dos gêneros nordestinos, o autor do livro vai traçando a formação do rock nacional a partir de suas raízes clássicas (hard rock, rock progressivo), heavy metal, entre outros.

A discussão sobre o rock enquanto experiência sonora mais do que o discurso é tratada pelo autor, que não vê neutralidade no exercício de compor letra (e tem toda razão), já que o processo exige pensamento e racionalização – portanto, zero de isenção.

Mas o que ele ressalta no livro é que foi o punk rock (entre as várias vertentes do gênero) que colidiu frontalmente com a ideologia burguesa, tratando sobre jovens trabalhadores oprimidos da periferia, um discurso posteriormente assumido pelo rap.

Ele chama de circuito médio aquele que agregava as bandas comerciais de rock pop de grande apelo de público, característico dos anos 1980, em contraposição ao circuito underground, composto por bandas independentes também da época.

Marques Neto faz alguns contrapontos ao conjunto dos roqueiros oitentistas que surgiram nas principais capitais, com som mais digerível pelo público e presença massificada na mídia. Mas ele não vê o movimento como estéril e ressalta, também, seu valor artístico e suas letras críticas.

O rock brasileiro, com suas diversas variáveis, é muito concentrado nas grandes cidades de São Paulo (com número expressivo de bandas em todo o estado), Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco e Distrito Federal, com ausência em lugares onde o domínio do sertanejo é forte e relativamente conhecido – talvez a exceção seja Goiás (observação do autor deste texto).

O autor do livro mapeia tudo isso com gráficos e análises. Hoje, o circuito do rock é turbinado pelas plataformas digitais.

Para Roberto Marques Neto, o rock é transgressor por natureza, mas muitas vezes o seu público é refratário ao campo das ideias progressistas. O autor entende que o resgate de tais essências contraculturais é condição sine qua non para um novo momento de sublimação do rock, como foi no seu surgimento, na década de 1950.

Essas ideias e outras sobre o gênero, apresentadas no livro Geografia do Rock no Brasil, dialogam muito bem com o debate atual em torno da representação do rock como um movimento conservador.

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