Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Marina Iris rompe padrões ao exaltar o amor lésbico em uma roda de samba

Depois de um álbum em clima de manifesto, a sambista lança o quarto trabalho com um tom mais leve, sem perder o ativismo

Foto: Divulgação
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O Voz Bandeira (2019) é considerado por Marina Iris um álbum-manifesto. Nesse seu terceiro trabalho, em algumas faixas, as escritoras Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo e Elisa Lucinda leem trechos de suas obras.

“É um encontro de vozes negras”, resume, lembrando que o disco conta também com cantoras e compositoras negras como ela, incluindo Fabiana Cozza e Leci Brandão.

“2019 foi um momento delicado, de fato. Não à toa, o Voz Bandeira é dedicado a Marielle (Franco). Foi no ano seguinte (ao assassinato da vereadora) e da eleição (de Jair Bolsonaro). Ali era uma necessidade de colocar para fora.”

Para piorar, veio a pandemia. Marina Iris conta que sofreu em dobro, não somente pelas perdas, mas pelo fato de não poder se reunir para fazer roda de samba – para ela, “o público é parte integrante”.

Além disso, com o ódio desenfreado, falar de amor tornou-se preponderante. “Então, o que propus nesse último trabalho foi trazer várias vozes para falar sobre esse tema”, afirma.

O álbum Virada, lançado neste ano pela sambista, reúne justamente o amor em clima de roda de samba, com a participação de Amanda Amado, Deborah Vasconcelos, Diogo Nogueira, Lenine, Marcelle Motta, Moacyr Luz, Péricles e Renato da Rocinha.

Marina Iris, no entanto, pensou no amor não apenas no “relacionamento tradicional”, mas em todas as suas formas.

O videoclipe de uma das faixas do novo disco, a música Tô a Bangu (composição de Arlindo Cruz e Franco), simboliza o modo amplo como ela enxerga o amor. No clipe, ela contracena com a sua companheira, a atriz e diretora Luiza Loroza (filha do ator Serjão Loroza), com direito a um beijo no final, enquanto uma roda de samba acontece.

“Com relação a Tô a Bangu, a música não tem um marcador de gênero. Eu me vejo totalmente nessa música. Se for contracenar, será com uma mulher. Por ser lésbica, é muito mais imediato pensar que eu estaria contracenando com uma mulher. No entanto, dentro do contexto do que eu vivo no samba, pouquíssimas pessoas pensaram em um casal lésbico quando ouviram essa música”, diz.

Marina Iris considera o samba machista, apesar de sua contribuição à liberdade.

“A gente tem essa batalha sendo travada, mas as mulheres têm ganhado força, com seu protagonismo. As mulheres tiverem sempre importância muito grande dentro do samba, como matriarcas, como figuras que protegeram o samba, difundiram o samba”, diz. “O samba é muito popular. Então, ele atinge muitas pessoas diferentes. Os problemas de senso comum também ficam ali muito presentes.”

“A narrativa (do samba) é ainda muito operada por homens. A gente avançou de assumir as narrativas. A gente canta há décadas perspectivas masculinas sobre o mundo, mesmo quando o cara escreve uma música para a mulher gravar e ele se aproxima o máximo possível da perspectiva dela. A gente está primeiro rompendo com essas questões”, prossegue. “A minha roda (de samba) não é LGBT. Eu sou uma mulher do movimento, mas roda tem que ser confortável para diferentes públicos. É um trabalho tornar o ambiente de samba confortável para todos os públicos.”

Assista à entrevista de Marina Iris a CartaCapital na íntegra:

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