Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro destrincha disco de Beth Carvalho que deu vida ao Cacique de Ramos

A obra aborda o clássico ‘De Pé no Chão’ (1978), que mostrou uma sonoridade nova do samba

Imagem: Reprodução
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O samba até então tinha como base o violão, o cavaco e percussões tradicionais, como surdo e o pandeiro. Quando Beth Carvalho chegou em 1977 na quadra do bloco Cacique de Ramos, convidada pelo ex-jogador Alcir Portella, viu também um repique de mão, um tantã e um banjo com afinação de cavaquinho no meio daquela batucada.

Os três novos instrumentos atendiam ao modelo de roda que era feito naquele espaço da Zona Norte do Rio de Janeiro, de som acústico, sem microfone e em local aberto, onde era importante tornar a cantoria audível e, ao mesmo tempo, intimista, sem comprometer a característica sonora do gênero – e até oferecer uma levada revigorada ao samba. 

A obra Beth Carvalho: De Pé no Chão (Editora Cobogó, 152 pag.), de Leonardo Bruno, que tem outros bons livros de samba publicados e alguns já citados neste espaço, conta como a cantora pegou a sonoridade do que ouviu no Cacique de Ramos para transpor para um álbum seu.

O disco, produzido por Rildo Hora, abre com a clássica Vou Festejar, de autoria de crias do Cacique: Jorge Aragão, Dida e Neoci. É interessante observar que somente mais um samba – de autoria de Beto Sem Braço e mais dois compositores – dos 12 gravados no álbum De Pé no Chão envolve músicos daquela geração do bloco de Ramos. As outras faixas eram composições de sambistas ligados às escolas de samba que Beth já ouvia para gravar em seus discos.

O que a artista queria mesmo era levar a batucada do Cacique de Ramos para o seu disco, mesclando a sonoridade caciqueana com a base musical que já fazia parte dos álbuns anteriores. 

Depois disso, envolveu ainda mais aquela geração extraordinária – incluindo Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila – em seus registros fonográficos, com composições e eventuais participações. Acabou ganhando a alcunha de Madrinha do Samba pelo impulsionamento que deu a carreira desses sambistas formados embaixo da antológica tamarineira do Cacique de Ramos.

Essa nova fase do samba ganhou o nome de pagode carioca e se difundiu muito além do Rio, ajudando a formar muitas rodas pelo País. A palavra pagode, ligada anteriormente a encontros de samba, acabou sendo apropriada, poucos anos depois, pela indústria fonográfica e vinculada à formação musical desvirtuada e pouco próxima do que foi o Cacique de Ramos na sua origem.

Leonardo Bruno, no livro sobre o disco clássico de Beth Carvalho, se estende para causas e efeitos à indústria desse lançamento. Faz uma merecida defesa da nova era do samba surgida ali – e por certo um divisor de águas do gênero, depois de seu surgimento no início do século passado, sem perder as suas características ancestrais e suburbanas.

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