Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Johnny Hooker: ‘Parece que o futuro foi cancelado’

Com novo álbum, crítico e preocupado, o multiartista desabafa sobre a carreira e momento político: ‘Você se sente com a bota no pescoço’

Foto: Carlos Salles/Divulgação
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Johnny Hooker acaba de lançar ØRGIA, seu terceiro álbum solo, ou, como ele prefere dizer, o último de uma trilogia. O primeiro trata do amor e o segundo, de 2017, é uma celebração musical. “O terceiro encerra com desejo”, afirma. 

O trabalho novo do multiartista pernambucano é inspirado no livro de contos do dramaturgo argentino Tulio Carella, que aborda em forma de diário sua passagem no Recife no início dos anos 1960. 

“Percebi um paralelo muito grande da aventura que o Tulio se meteu e minha vida hoje”, diz em entrevista ao colunista. “Tulio se encanta com a cultura, com a noite da cidade, com as possibilidades de desejo e sexo que ela oferecia”.

Johnny faz uma comparação de quando se mudou para São Paulo e se encantou “com a megalópole e as possibilidades de desejo que ela oferece” ao seu habitante.  “Ao mesmo tempo em que a gente estava em um momento de libertação, a nuvem do autoritarismo, do fascismo, do militarismo também estava se aproximando”, pontua. 

Neste caso, o paralelo que faz é o do momento atual com a época vivida por Tulio Carella na capital pernambucana – depois das aventuras nas ruas e cabarés, o escritor acabou preso e extraditado para a Argentina, que, tempos depois, caiu em uma ditadura.

“A história que Tulio viveu é a história que estou vivendo agora”, acrescenta o artista. O forte disco ØRGIA, de 13 faixas, aborda diversão, sonhos, o corpo como resistência e se encerra de forma crítica. “É um disco preocupado com o momento”, diz. A penúltima faixa, Estandarte, tem uma declaração de Marielle Franco.

Espero que outubro tenha um respiro, uma delimitação, algum horizonte no caminho porque pelo que vejo hoje parece que o futuro foi cancelado”, afirma.

Sobre a carreira, em tom de desabafo, fala das dificuldades e das “portas que voltaram a se fechar” neste período turbulento. “Você sente com a bota no pescoço. Já fiz de tudo, coisas importantes, relevantes. Mas não me deixam crescer. Toda vez que tento crescer vem alguém e diz: ‘aqui tem dono’. Então se não é para crescer, vou fazer outras coisas”, conta. 

“A minha carreira é de um milagre. De pequenas oportunidades, construí uma obra”, diz. “Quanto tempo mais tenho para provar que meu trabalho tem potencial”.

Assista a entrevista completa:

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