Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Filme mostra como um baile de black music virou um grande espaço de cultura negra

O evento em questão era da Chic Show, um marco dos anos 1970 e 80 em São Paulo

Foto: Divulgação
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Os negros costumavam se reunir às sextas-feiras em frente à loja Mappin e, mais à frente, no viaduto do Chá. Iam saber das novidades na cidade. Uma delas seria um dos mais bem-sucedidos acontecimentos socioculturais paulistanos.

Trata-se da Chic Show, que tem a sua história muito bem contada em documentário lançado em 2023, com direção de Emílio Domingos e Felipe Giuntini. O filme de 90 minutos chegou a entrar na programação deste ano do In-Edit Brasil, festival de documentário musical mais importante do País. Agora, o longa-metragem pode ser visto no Globoplay.

O documentário, rico em imagens da época, tem como personagem principal o idealizador da Chic Show, Luiz Alberto dos Santos, o Luizão.

Os bailes da Chic Show começaram na Vila Madalena, passaram pela Barra Funda e foram se firmar no Ginásio do Palmeiras, clube da elite e, nas palavras de Luizão no filme, “quase proibido para negros”.

No Palmeiras, cada baile atraía cerca de 10 mil pessoas. Jorge Ben, que se apresentou no local, afirma no documentário que “nunca tinha tocado assim, para tanta gente negra junta”.

A Chic Show foi, de fato, encontro do perseguido povo negro e a afirmação de sua cultura, da black music e de suas vertentes, da forma de ser e se vestir – movimento, aliás, que se fortaleceu também no Rio de Janeiro, a reboque do que ocorria nos Estados Unidos.

O filme é didático nesse ponto, com depoimentos esclarecedores de frequentadores e envolvidos em eventos dessa natureza, como Mano Brown e Ice Blue, dos Racionais. Gilberto Gil, que também chegou a se apresentar nos bailes da Chic Show, em seu depoimento fala em “sensação de inclusão” quando lá esteve.

Até James Brown ocupou o palco no Palmeiras, no final dos anos 1970, trazido pela organização da Chic Show.

Nos anos 1980, a promotora do baile já organizava eventos na periferia de São Paulo e no interior. DJs e seus discos exclusivos rodavam bailes mostrando as novidades da música essencialmente negra.

A Chico Show promoveu ainda o rap nos seus bailes no final dos anos 1980, com apresentação internacional de Kool Mou Dee e o DJ Easy Lee, assim como o pagode dos anos 1990, que absorveu muito da levada dos bailes para suas canções românticas. Assim, os eventos acompanhavam as tendências do movimento negro.

Até em produção de disco a Chico Show se meteu, lançando o primeiro álbum do rap, a coletânea Som das Ruas (1988). Luizão também teve um famoso programa de rádio.

Luizão, filho de empregada doméstica e de pai pedreiro, conta cronologicamente a história da Chic Show no filme. No fim, seu depoimento emocionante expõe o preço enfrentado por um negro para superar desafios e criar uma bem sucedida empresa de promoção artística voltada à cultura negra em uma sociedade de racismo velado.

É um documentário valioso para entender a ascensão da música negra em São Paulo.

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