Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Filho de retirantes, Marcelo Jeneci mergulha na canção popular do Nordeste

O cantor traz uma banda de pífanos para seu novo álbum e se aproxima das origens do pai, consertador de sanfona

Marcelo Jeneci: novo projeto busca contato com as tradições, conectando-as aos sons urbanos da metrópole (Foto: Divulgação)
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Sairé fica no agreste pernambucano. Foi lá que Marcelo Jeneci teve o primeiro contato, ainda na infância, com as manifestações locais, como o bacamarteiro. 

O músico, nascido em São Paulo, é filho de retirantes nordestinos daquelas bandas. “Convivi com muitos sanfoneiros porque meu pai consertava sanfona e é responsável pela eletrificação do acordeon no Brasil”, lembra.

Com intenção de resgatar as memórias afetivas é que nasceu o projeto que envolve o lançamento de três álbuns – o primeiro com o nome de Caravana Sairé saiu dias atrás – e um documentário.

“A caravana tem a intenção de explicar de onde vem minha música. Eu por muitos anos evitava isso, sentia que não era hora ainda e as pessoas pedindo pra fazer um trabalho desses”, conta. 

Para dar cabo ao projeto, Marcelo Jeneci dialogou antes com o cineasta pernambucano Helder Pessoa Lopes – que é parceiro de Jeneci em uma faixa no seu primeiro disco – e juntos seguiram para o interior do Nordeste profundo, onde visitaram desde a terra de Luiz Gonzaga e de outros sanfoneiros a território indígena. 

A ideia era ter contato com as tradições e conectá-las ao Jeneci de hoje, ligado aos sons urbanos da metrópole. Agora, o projeto dá luz ao primeiro álbum da trilogia, com mergulho em torno da canção popular brasileira construída a partir do Nordeste. 

“Essa geração que veio do Nordeste, se estabeleceu boa parte no Sudeste. E eu nasci na zona leste de São Paulo. Cresci colidindo com esses dois mundos: a sanfona, a melodia agrestina, a saudade, a festa, e na metrópole com o ruído, o soundsystem, a cultura de rua. Mergulho (no disco) em torno desse vasto universo”, explica. 

Marcelo Jeneci foi em busca da formação das bandas de pífanos de Caruaru para gravar esse seu novo trabalho. “É uma formação diferente do forró. As bandas de pífano não têm triângulo, tem prato, zabumba, pandeiro e contrassurdo, que é uma zabumba menorzinha”, conta.

Gravaram o primeiro disco da trilogia, Caravana Sairé, Mestre Bastos (zabumba), Mestre Zé Gago (pratos), Ivson Santos (pandeiro), Juba Carvalho (percussão), Lucas Dan (sanfona) e Bruna Alimonda (coro). Jeneci toca sanfona, teclados e assume os bass synths dando contemporaneidade e contorno pop ao trabalho.

Entre dez faixas, ha músicas conhecidas de Luiz Gonzaga, Sou o Estopim (Antonio Barros e Cecéu), Lembrança de um Beijo (Accioly Neto), Amor Não Faz Mal a Ninguém (Onildo Almeida), Devagar (Jorge de Altinho), Cadeira de Balanço (Assisão e Lindolfo Barbosa), duas canções de Jeneci com Chico César e a clássica Ai que Saudade de Ocê (Vital Farias). Helder Pessoa Lopes assina a direção artística do álbum.

“São canções que unidas pontuam um bom pedaço geográfico da música popular brasileira a partir do Nordeste”, conclui. 

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