Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Festival que já sofreu censura agora é cancelado por descontinuidade de edital

Diretor e músico Rowney Scott lamenta o fato de o evento na Bahia, realizado desde 2010 com entrada gratuita, enfrentar nova dificuldade

Flickr/Festival de Jazz do Capão
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A polêmica foi grande, em meados de 2021, quando o Festival de Jazz do Capão, na Bahia, teve negada a captação de recursos via Lei Rouanet.

O parecer do então governo federal para o indeferimento vinha cheio de referências religiosas para, na essência, responder ao fato de o evento ter se apresentado nas redes sociais como “antifascista e pela democracia”. O escritor Paulo Coelho até se ofereceu para bancar a realização.

Algumas semanas atrás, o seu idealizador, o músico Rowney Scott, sofreu outro baque. Não conseguiu apoio do governo do estado para a organização da edição deste ano e teve de cancelá-la.

“Primeiro a censura do governo passado, que teve uma repercussão muito grande. Neste ano foi a falta de continuidade em relação ao edital, de que a gente fazia parte desde 2017, como um evento calendarizado na Bahia”, afirma.

Rowney Scott, que também é professor do curso de Música Popular na UFBA, atribui a descontinuidade do ato à falta de comunicação na Secretaria de Cultura da Bahia durante a transição de governos, depois de várias tentativas para discutir a questão no órgão – inclusive com a participação de demais realizadores de projetos culturais que foram prejudicados com o fim do apoio.

“Festivais vêm desde janeiro tentando uma comunicação com a Secretaria (de Cultura). Nós agimos mais de maneira institucional, não de lobby”, ressalta. “Festivais, quando interrompidos, quebram um ciclo econômico, de produção.”

Realizado em um pequeno e aprazível vilarejo de Caeté-Açú, na Chapada Diamantina, o festival tem papel central de dinamizar a região (conhecida como Vale do Capão) e, ao mesmo tempo, levar cultura de qualidade à região.

“Fazer um evento dessa natureza é um desafio muito grande”, afirma Scott. “Nós já estamos mirando 2024, para garantir que aconteça.”

O Festival de Jazz do Capão é realizado desde 2010 e tem entrada gratuita, assim como as oficinas musicais que ocorrem em paralelo.

“A gente não tem a intenção de mudar isso. Poderia tentar conseguir patrocinador, fazer uma coisa fechada e elitizada e cobrar 400, 500 reais, mas perde todo o sentido, porque a gente quer que aquela comunidade ali tenha acesso. E sendo um festival de música instrumental, é mais difícil ainda ir para o interior.”

Scott integra a Orkestra Rumpilezz, bastante conceituada no meio musical e que já ganhou vários prêmios da música brasileira, mas afirma que ela poucas vezes foi a cidades do interior do País para se apresentar.

Entre os artistas que já participaram do festival de Capão estão Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Naná Vasconcelos, Ivan Lins, João Bosco, Egberto Gismonte, Joice Moreno, César Camargo Mariano, Dori Caymmi e vários músicos da cena baiana de jazz e instrumental.

Assista à entrevista de Rowney Scott a CartaCapital:

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